Setor de refino global não consegue acompanhar rali do petróleo
O petróleo é a commodity mais importante do mundo, mas não tem valor sem que uma refinaria o transforme em produtos que as pessoas realmente usam: gasolina, diesel, combustível de aviação e petroquímicos para plásticos. Mas o setor mundial de refino enfrenta a pior crise já vista.
“As margens de refino são absolutamente catastróficas”, disse Patrick Pouyanne, diretor-presidente da Total, em conversa com investidores no mês passado.
A empresa é o maior grupo de refino de petróleo da Europa. A visão de Pouyanne ecoa a opinião de executivos, operadores e analistas.
O que acontece com o setor de refino de petróleo neste momento terá efeitos colaterais no restante da indústria de energia.
As refinarias de bilhões de dólares empregam milhares de pessoas e uma onda de fechamentos e pedidos de recuperação judicial se aproxima.
“Acreditamos que estamos entrando em uma ‘era de consolidação’ do setor de refino”, disse Nikhil Bhandari, analista de refino no Goldman Sachs.
Os principais nomes do setor, que processaram coletivamente mais de US$ 2 trilhões em petróleo no ano passado, são gigantes como Exxon Mobil e Royal Dutch Shell.
Também existem gigantes asiáticos como a chinesa Sinopec e a Indian Oil, bem como grandes empresas independentes como Marathon Petroleum e Valero Energy, com seus onipresentes postos de combustíveis.
Mas o que mata as refinarias é o remédio que está salvando a indústria petrolífera em geral.
Quando o presidente dos EUA, Donald Trump, coordenou cortes recordes da produção de petróleo entre Arábia Saudita, Rússia e o resto da aliança Opep+ em abril, ele pode ter resgatado a indústria de gás de xisto dos EUA no Texas, Oklahoma e Dakota do Norte, mas complicou a situação das refinarias.
Os cortes incentivados por Trump elevaram os preços do petróleo, com o tipo Brent tendo subido de US$ 16 para US$ 42 o barril no espaço de alguns meses.
Mas, com a demanda ainda em baixa, os preços da gasolina e de outros produtos refinados não se recuperaram com tanta força, prejudicando as refinarias.
Com a demanda norte-americana agora dando sinais de nova queda devido ao aumento dos casos de coronavírus nas principais regiões consumidoras de gasolina, como Texas, Flórida e Califórnia, as margens correm risco de caírem nos EUA, que respondem por quase dois em cada dez barris de petróleo refinados no mundo todo.
“O pior temor das refinarias é o ressurgimento do vírus e outra série de bloqueios no mundo todo que impactariam significativamente a demanda outra vez”, disse Andy Lipow, presidente da Lipow Oil Associates, em Houston.
Outro problema é que – onde está se recuperando – a demanda varia de um produto refinado para outro, criando dores de cabeça para executivos que precisam selecionar os melhores tipos de petróleo para a compra, e os combustíveis certos para produzir.
O consumo de gasolina e diesel voltou a subir, em alguns casos, para 90% do nível normal, mas o uso de combustível de aviação permanece quase tão baixo quanto nas mínimas das paralisações causadas pelo coronavírus, em apenas 10% a 20% do normal em alguns países europeus.