Economia

Setor de máquina agrícola espera reação à frente após perdas irreparáveis por vírus

26 mar 2020, 15:15 - atualizado em 26 mar 2020, 15:15
soja
 A comercialização de tratores, colheitadeiras e demais implementos utilizados no plantio e colheita se intensificam entre junho e outubro (Imagem: REUTERS/Roberto Samora)

Com as vendas prejudicadas pelo cancelamento de feiras e demais efeitos do coronavírus, o setor de máquinas agrícolas no Brasil aposta no segundo semestre para recuperar uma parcela significativa do faturamento do ano, enquanto os negócios para a infraestrutura da fazenda, como silos, já sofreram perdas irreparáveis.

“Cerca de 60% das vendas são realizadas no segundo semestre, de máquinas que serão usadas na próxima safra de verão… Se não houver um grande problema no mercado, esperamos recuperar parte disso este ano”, disse representante da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e diretor institucional da Jacto, Pedro Estevão Bastos.

Sazonalmente, a comercialização de tratores, colheitadeiras e demais implementos utilizados no plantio e colheita se intensificam entre junho e outubro, para a safra de verão, e passam por uma nova rodada de negociações entre abril e maio, para utilização nas culturas de inverno.

Segundo Bastos, a expectativa inicial da Abimaq era aumentar em 7% no faturamento de máquinas agrícolas neste ano. Em 2019, a receita atingiu 16,7 bilhões de reais.

Além do cancelamento de pedidos de venda e do fechamento de concessionárias, fornecedores pararam de fabricar peças e, em consequência, levaram à suspensão nas atividades de montadoras.

Nesta semana, as companhias de máquinas agrícolas Jacto e John Deere anunciaram suspensões das operações em fábricas no Brasil –no caso da Deere, paralisações estão previstas em cinco unidades.

As companhias de máquinas agrícolas Jacto e John Deere anunciaram suspensões das operações (Imagem: REUTERS/Gustavo Bonato)

Neste cenário, o vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Alfredo Miguel Neto, afirmou que há preocupação em manter ao menos o atendimento aos produtores rurais.

“Mesmo que haja individualmente um plano de fechamento (entre as indústrias), (estamos) montando todo o esquema para poder atender o pós-venda, ou seja, os produtores, nossos clientes, na produção de peças e na assistência técnica.”

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Infraestrutura na lavoura

Enquanto a indústria de máquinas e implementos agrícolas ainda tem chance de recuperar parte dos resultados previsto para o ano, setores como o de armazenagem e irrigação podem amargar perdas irreparáveis, pois são compostos por projetos de médio e longo prazo.

O presidente do Grupo de Trabalho de Armazenagem de Grãos da Abimaq, Paulo Bertolini, conta que o setor já vinha prejudicado, desde novembro, pelo término dos recursos do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA).

Para o ciclo de 2019/2020, o Ministério da Agricultura destinou 1,815 bilhão de reais para o PCA, a taxas de juros entre 6% e 7% ao ano, pelo Plano Safra.

Agora, Bertolini acredita que as incertezas econômicas devem fazer o setor “sofrer bastante”.

Uma vez instalada na propriedade rural, uma infraestrutura de armazenagem demora de oito a dez anos para ser amortizada e precisar de renovação.

Segundo Bertolini, os produtores se apoiam a este argumento para postergar este tipo de investimento e, então, a safra de grãos cresce a níveis mais elevados do que a capacidade de armazenagem do país.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que o Brasil colherá 251,9 milhões de toneladas de grãos na safra de 2019/2020, um recorde. Em contrapartida, Bertolini calcula que o déficit de armazenagem, atualmente, chega a 90 milhões de toneladas.

Em resposta à crise do coronavírus, a Kepler Weber, maior fabricante de equipamentos para armazenagem de grãos da América Latina, informou que os funcionários da planta de Panambi (RS) e de Campo Grande (MS) terão férias coletivas por 20 dias.

Impulsionada pela recente ocorrência de seca em algumas regiões do país, como o Rio Grande do Sul, e pelo alto patamar de capitalização dos produtores rurais, a perspectiva para o setor de irrigação vinha positiva até a eclosão da crise do coronavírus.

“Prevíamos um crescimento de 10% no mercado para 2020, ante a média de 1,4 bilhão de reais de faturamento registrada no ano passado. Agora, se conseguirmos estabilidade no resultado de 2020 significa que contornamos bem a crise”, disse o diretor presidente da Valmont no Brasil e presidente da Câmara Setorial de Irrigação da Abimaq, Renato da Silva.

“Estamos vivendo uma crise financeira que já está impactando todos os setores. Esse ambiente de incerteza não é favorável para qualquer tipo de negócio… só é cedo para mensurar a dimensão disso (na irrigação)”, acrescentou.