Setor Elétrico

Setor de energia solar busca políticos e advogados contra proposta da Aneel

23 out 2019, 17:18 - atualizado em 23 out 2019, 17:18
A geração solar distribuída está perto de alcançar 1,5 gigawatt em capacidade no Brasil, após ter chegado a 1 gigawatt em meados do ano (Imagem: REUTERS/Bruno Kelly)

Associações do setor de energia solar têm se movimentado junto a políticos e advogados para tentar reverter planos da reguladora Aneel de mudar regras da chamada geração distribuída, que envolve a instalação de sistemas principalmente solares por consumidores em telhados ou grandes terrenos, por exemplo.

Pela proposta da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), subsídios atualmente concedidos a projetos de geração distribuída (GD) seriam reduzidos a partir de 2020 para novos sistemas, enquanto aqueles já outorgados entrariam no novo modelo de remuneração a partir de 2030.

A geração solar distribuída está perto de alcançar 1,5 gigawatt em capacidade no Brasil, após ter chegado a 1 gigawatt em meados do ano, em meio a um crescimento acelerado justamente pela perspectiva de possíveis mudanças em 2020.

A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) estima que a tecnologia já recebeu 6,5 bilhões de reais desde 2012, quando foram criados os incentivos.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que a GD deve atingir 11,4 gigawatts instalados até 2029, com investimentos de 50 bilhões de reais, sendo que quase 90% dos sistemas serão solares.

“Desde terça-feira temos feito um trabalho intensivo, estamos presentes em Brasília para conversar realmente com os parlamentares, ministros e secretários de ministérios sobre essa situação e o impacto que isso pode trazer para o desenvolvimento do setor”, disse à Reuters a vice-presidente de geração distribuída da Absolar, Bárbara Rubim.

“Temos buscado o auxílio de parlamentares para conseguir chamar a atenção da agência (Aneel), do governo, do próprio Ministério de Minas e Energia, e reabrir essa discussão”, acrescentou ela.

Já sistemas de geração distribuída em áreas remotas, conhecidos como “fazendas solares”, veriam já a partir do próximo ano uma redução de 7% a 19% nas taxas internas de retorno (TIRs

Estudo da consultoria Greener projeta que as mudanças regulatórias, atualmente em discussão em consulta pública da Aneel, aumentariam o tempo para que um consumidor recupere o investimento em um sistema de GD em até 25% em 2020 ou até 50% no futuro, quando estaria previsto novo aperto das regras.

Já sistemas de geração distribuída em áreas remotas, conhecidos como “fazendas solares”, veriam já a partir do próximo ano uma redução de 7% a 19% nas taxas internas de retorno (TIRs).

O presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Evangelista, disse que “nem no pior pesadelo” imaginou que as mudanças em debate teriam impactos tão significativos sobre o setor.

“Estamos trabalhando em conjunto com as outras associações, como a Absolar, e em quatro frentes… uma delas é o grupo jurídico, e estou acompanhando isso de perto. Estudamos, em termos jurídicos, quais seriam os caminhos que a gente buscaria caso a Aneel seja irredutível”, afirmou.

A ABGD estima que o setor de microgeração movimenta atualmente entre 7 mil e 8 mil empresas no Brasil, entre instaladores, distribuidores e fabricantes, entre outros

“Achamos que algumas coisas foram falhas, que existem brechas jurídicas”, adicionou ele, sem detalhar.

Um dos pontos que poderia ser utilizado para judicializar o assunto seria a sinalização da Aneel de que as regras atuais serão mantidas até 2030 para sistemas já instalados, disse Bárbara, da Absolar.

“Temos manifestações claras da agência, inclusive gravadas, de que a regra seria somente para novos entrantes.”

A ABGD estima que o setor de microgeração movimenta atualmente entre 7 mil e 8 mil empresas no Brasil, entre instaladores, distribuidores e fabricantes, entre outros.

Representantes do setor solar chegaram a circular com um abaixo-assinado no qual acusavam a Aneel de “querer taxar o sol”, um argumento colocado como “falso” no material do ministério chefiado por Paulo Guedes (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Economia contra

A proposta da Aneel para a geração distribuída recebeu apoio nesta semana do Ministério da Economia, que publicou boletim de perguntas e respostas sobre o tema no qual defende que a manutenção do modelo atual para a tecnologia geraria custos extras de 56 bilhões de reais para o sistema elétrico até 2035, impactando consumidores que não adotaram o sistema.

O valor, que foi citado também pela reguladora do setor elétrico na semana passada, equivaleria a 34 bilhões de reais a valor presente, “suficiente para construir mais de 9 mil creches, ou comprar 180 mil ambulâncias”, argumentou a pasta de Economia.

Em meio ao debate, representantes do setor solar chegaram a circular com um abaixo-assinado no qual acusavam a Aneel de “querer taxar o sol”, um argumento colocado como “falso” no material do ministério chefiado por Paulo Guedes.

Ministério da Economia
Os argumentos do ministério, no entanto, são criticados pelas associações que representam investidores em energia solar (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

“Na verdade, as alterações reduzem os encargos, e não aumentam. A diferença é que reduz o encargo que o cidadão comum pagaria, e que seria transferido a esse grupo de interesse, que, agora, luta para mantê-lo.”

Os argumentos do ministério, no entanto, são criticados pelas associações que representam investidores em energia solar. As entidades afirmam que essa conta, assim como a da Aneel, considerou apenas custos desencadeados pela GD, mas não benefícios gerados pela tecnologia, que impactariam positivamente todos consumidores.

A geração distribuída possibilita redução ou postergação de investimentos na rede elétrica, além de produzir mais em horário de pico, o que ajuda o sistema, apontou a ABGD, que listou ainda benefícios ambientais e de geração de empregos desses sistemas.

As associações defendem ainda que a redução dos incentivos à GD deveria acontecer apenas após uma maior penetração desses sistemas, que hoje é de quase 1% da matriz energética brasileira.

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