Setor de açúcar do Brasil tem espaço para consolidação apesar de melhor perspectiva
Usinas brasileiras de açúcar têm sido beneficiadas por uma alta nos preços do adoçante, baixas taxas de juros e pela forte demanda pelo etanol derivado de cana, mas ainda há espaço para consolidação no segmento, já que algumas delas continuarão com dificuldades, disseram especialistas em uma conferência anual do setor em Dubai nesta segunda-feira.
Cerca de um terço das usinas brasileiras estão em um “círculo vicioso”, com restrições de crédito e sendo obrigadas a vender seu etanol assim que ele é produzido, afirmou o estrategista global de açúcar do Rabobank, Andy Duff.
“Elas acabam tendo custos maiores e receitas menores… Estão em uma espiral descendente. Elas acabam perdendo fornecedores independentes de cana de açúcar, que se sentem mais seguros com outras usinas vizinhas que estão em posições melhores”, disse Duff.
“É por isso que há uma consolidação silenciosa, em que você tem a migração da cana de agentes mais fracos para aqueles em melhor situação.”
Em contraste, cerca de um terço das usinas brasileiras estão em um “círculo virtuoso”, disse ele.
“Por terem grande liquidez, elas podem tirar proveito da sazonalidade de preços do etanol e aumentar receitas e margens. Elas têm espaço para investir em tecnologia e em expansões, e também atraem ofertas de cana de quem vem lidando com empresas que estão em situação oposta”.
Duff disse que um outro terço das usinas brasileiras tem apenas lutado para não se afogar.
O presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, afirmou que nos últimos 12 meses o uso da cana para fabricação de etanol foi mais lucrativo do que para produção de açúcar, embora a diferença tenha diminuído após um recente aumento nos preços do adoçante.
Os preços globais do açúcar subiram cerca de 12% neste ano e atingiram máxima de mais de dois anos de 15,13 centavos de dólar por libra-peso na semana passada.
Participantes da conferência afirmaram que a proporção de cana utilizada para produção de açúcar no Brasil poderá aumentar neste ano, com um aperto na oferta global após colheitas ruins na Tailândia e na Índia.
O Brasil é um fornecedor chave de açúcar devido à sua flexibilidade, com capacidade de alternar a produção entre açúcar e etanol. Se o mercado global precisa de açúcar, então deve manter os preços em um nível competitivo com o etanol, afirmaram os participantes da conferência.
“Nós não sabemos (qual é) o número final da produção (de açúcar) do Brasil de que o mercado precisa. Se (a oferta do Brasil) pode preencher essa lacuna, é justo dizer que não há razão para o açúcar divergir significativamente da paridade com o etanol”, disse o diretor da LMC International, Martin Todd.