Setor cripto busca bancos fora dos EUA após falências
Marco Lim, executivo que atua com hedge funds de ativos digitais, passou a segunda-feira tentando abrir contas bancárias em Hong Kong após o colapso repentino de três bancos dos EUA.
O hedge fund MaiCapital, com sede em Hong Hong, tinha recursos em uma das instituições falidas, o Signature Bank. Como o MaiCapital precisa de alternativas, Lim, sócio-gerente do fundo, pressiona bancos para acelerar a abertura de contas.
Os dois maiores bancos que trabalhavam com o setor de criptomoedas fecharam, disse Lim, em referência ao Signature e ao Silvergate Capital, que também contava com muitos clientes cripto e anunciou sua liquidação voluntária na quarta-feira. “Já passei por crises demais.”
Silvergate, Signature e Silicon Valley Bank quebraram nos últimos dias em meio a corridas bancárias, o que levou reguladores dos EUA a introduzir um novo mecanismo para proteger os depósitos.
O colapso do Silvergate e do Signature é particularmente grave para a indústria de ativos digitais, pois os dois operavam redes de pagamentos em tempo real, sete dias por semana, auxiliando no fluxo de fundos para o setor.
Muitas empresas cripto agora buscam bancos fora dos EUA, com instituições na Suíça e nos Emirados Árabes Unidos entre os destaques. Esse distanciamento dos EUA já havia começado devido à crescente pressão regulatória após a implosão da exchange cripto FTX, fundada por Sam Bankman-Fried.
“Os EUA não são tão receptivos como antes em relação a cripto”, disse Richard Galvin, cofundador da gestora de fundos Digital Asset Capital Management, em Sydney. “Faz sentido diversificar por motivos jurisdicionais.”
Opção suíça
Um banco suíço é uma das instituições com as quais a Digital Asset Capital Management conduz um “processo de integração”, disse Galvin.
Na Suíça, o Sygnum Bank e o SEBA Bank estão entre os que trabalham com o setor de ativos digitais. O Deltec Bank & Trust e o Capital Union Bank, nas Bahamas, também são conhecidos por seu foco em cripto.
O SEBA Bank observa um aumento no tráfego do site globalmente, muito mais nos EUA, disse o banco em comunicado, segundo o qual empresas cripto solicitaram a abertura de contas e conversas por telefone estão agendadas com muitas outras partes interessadas.
Para empresas sediadas nos EUA, como a corretora cripto Coinbase Global, bancos americanos ainda são cruciais. No site da Coinbase, JPMorgan Chase, Cross River Bank e Pathward são listados como instituições onde a empresa pode depositar fundos de clientes.
A Circle Internet Financial, emissora da segunda maior stablecoin, a USDC, acaba de anunciar a próxima cunhagem automatizada e resgate do token por meio do Cross River Bank. A Circle possui licenças e registros nos EUA e tinha US$ 3,3 bilhões em reservas que garantiam a USDC no Silicon Valley Bank.
Ceticismo dos bancos
Um dos desafios para a indústria de criptoativos é que os bancos estão cada vez mais céticos após as perdas de US$ 2 trilhões nesse mercado, o colapso de várias empresas de ativos digitais e maior escrutínio regulatório.
“Existem serviços bancários disponíveis, mas a barreira para entrar nunca foi tão alta”, disse Jonny Caldwell, codiretor de gestão de ativos da Trovio, com foco em ativos tradicionais e digitais. “Os bancos estão checando detalhes que demonstrem a força dos negócios.”
Caldwell soube de vários fundos cripto que contataram bancos do Oriente Médio e da Suíça em busca de parceiros bancários alternativos.
“Prevejo que mais instituições cripto começarão a explorar o sistema bancário asiático”, disse Adrian Lai, fundador da Newman Capital, em Hong Kong, que administra um fundo de US$ 50 milhões com foco na web3, uma proposta de internet descentralizada baseada na tecnologia blockchain.