Sérvia conta com apoio da China para liderar vacinação na Europa
O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, diz que o status do país de líder da Europa continental na distribuição de vacinas é resultado da estratégia de olhar tanto para o leste quanto para o oeste.
O êxito do país dos Bálcãs surpreende quando a União Europeia enfrenta atrasos na vacinação. No entanto, o histórico da Sérvia de equilibrar interesses geopolíticos dá frutos em um momento crítico.
A Sérvia tem sido uma ponte importante para o acesso da China à Europa, enquanto o país também é um tradicional aliado da Rússia e aspira a aderir à UE. Essas relações permitiram diversificar as fontes de vacinas e inocular uma proporção maior da população do que qualquer outra nação da Europa depois do Reino Unido.
A Sérvia já vacinou 6,8% de seus 7 milhões de habitantes, mais do que o dobro da proporção na UE.
A maior parte das 1,1 milhão de doses importadas pelo governo sérvio até agora foi fornecida pela estatal chinesa Sinopharm. Vucic diz que sua recusa em se unir a um coro de líderes que criticaram a China em uma conferência de segurança na Alemanha o ajudou a estabelecer boas relações com o ministro de Relações Exteriores, Wang Yi.
“Eu fui o único que não acusou a China de nada, por isso tivemos uma reunião fraterna – o ministro de Relações Exteriores e eu – e, desde então, começamos a receber apoio chinês em relação ao coronavírus e tudo mais”, disse Vucic em pronunciamento televisionado à nação na semana passada.
A rápida distribuição de vacinas para combater a Covid-19 em relação à UE destaca a tensão no continente, e também as possíveis consequências geopolíticas em sua região mais volátil.
A abordagem sérvia já tem seguidores na UE: a vizinha Hungria se tornou o primeiro membro do bloco a aprovar vacinas fabricadas pela Rússia e China.
O objetivo da Sérvia é ingressar na UE, embora com um eleitorado já dividido quanto à adesão, e a pandemia poderia empurrar o país para a órbita de potências rivais. Ao mesmo tempo, o governo sérvio prometeu doações de vacinas ao Kosovo e à Bósnia-Herzegovina, expondo novamente as divisões na ex-Iugoslávia que alimentaram as guerras da década de 1990.
A UE se comprometeu a fornecer a seis possíveis membros nos Bálcãs Ocidentais – incluindo a Sérvia – 70 milhões de euros (US$ 85 milhões) para comprar vacinas contra a Covid, mas as entregas enfrentam atrasos.
Em vez de esperar pela ajuda da UE, o governo de Belgrado garantiu vacinas diretamente da China, Rússia e EUA.
Ex-ministro da Informação do falecido líder Slobodan Milosevic, Vucic encomendou vacinas de três fornecedores: Sinopharm, Instituto Gamaleya, da Rússia, e da Pfizer-BioNTech.
A Sérvia começou a vacinação em 24 de dezembro, dias antes da UE. O país tem contratos para 6,5 milhões de vacinas, mas a corrida global por imunizantes pode afetar o cumprimento dos acordos, disse Vucic.
Nenhuma vacina foi fornecida por meio da iniciativa multinacional Covax, à qual o estado dos Bálcãs também aderiu logo no início.
A chanceler alemã Angela Merkel conversou na segunda-feira sobre a crise com executivos de farmacêuticas e autoridades da Comissão Europeia como parte dos esforços para acelerar a vacinação.
Juntos, os 27 estados da UE inocularam 2,9% da população em comparação com 14,7% no Reino Unido e 10% nos EUA, de acordo com o Vaccine Tracker da Bloomberg.