“Seria um golpe isolar o chefe do Executivo”, diz Bolsonaro em apoio às manifestações
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que está ocorrendo um superdimensionamento do coronavírus no Brasil, apesar de ele ter sido testado para a doença, e avaliou que há uma disputa política pelo poder em curso entre ele e os presidentes das duas Casas do Congresso.
Um dia depois de desafiar os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a irem às ruas testar sua popularidade, Bolsonaro voltou a atacar os líderes do Legislativo, que o criticaram por ter se juntado no domingo a uma multidão em frente ao Palácio do Planalto que participava de manifestações que tinham o Congresso como um dos alvos principais.
“O que está em jogo? É uma disputa política por parte desses caras, eu estou sozinho em um canto, apanhando de todo mundo. Grande parte da mídia, não são todos, muitos governadores, os chefes do Poder Legislativo, que é o da Câmara e o do Senado, batendo o tempo todo, é uma luta de poder”, disse Bolsonaro em entrevista à Rádio Bandeirantes.
“Existe um perigo, mas está havendo um superdimensionamento nessa questão. Nós não podemos parar a economia”, acrescentou.
O presidente reiterou que considera estar havendo uma “histeria” no país, o que terá impactos sobre a economia. Segundo ele, dificilmente o Brasil vai atingir a meta de crescer 2% este ano devido ao surto.
“Você vai acabar com o comércio do Brasil, que em grande parte é feito na informalidade. Vai ter um caos muito maior do que pode ocasionar esse vírus aqui no Brasil”, afirmou.
“Essa é a preocupação que eu tenho. Se a economia afundar, afunda o Brasil. E qual o interesse, em parte, com toda certeza, dessas lideranças políticas? Se acabar a economia, acaba qualquer governo. Acaba o meu governo. É uma luta de poder.”
Na semana passada, o governo reduziu a expectativa de crescimento em 2020 de 2,4% para 2,1%. A maioria dos economistas do setor privado também reduziu suas previsões nas últimas semanas, mas de forma muito mais agressiva, com muitas próximas ou mesmo abaixo de 1,0%.
“Golpe”
Apesar da pandemia de coronavírus ter levado autoridades de saúde a desaconselhar aglomerações de pessoas, Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada no domingo pela manhã e saudou apoiadores nas grades do Planalto.
Ao longo de todo o dia, o presidente também publicou vídeos de manifestações pelo país em suas redes sociais, mesmo após ter feito um apelo na quinta-feira para que os atos fossem repensados. A atitude do presidente foi criticada pelos presidentes das duas Casas do Congresso.
Bolsonaro disse que, mesmo que o povo erre, é preciso respeitar a vontade popular.
“Eu tenho que dar o exemplo em todos os momentos e fui, realmente. Apertei a mão de muita gente em frente à Presidência para demonstrar que eu estou com o povo. O povo foi nas ruas, você tem que respeitar a vontade popular. Mesmo que o povo erre, você tem que respeitar a vontade popular. Isso é democracia”, afirmou.
O presidente também informou que será submetido na terça-feira a um segundo teste para coronavírus, após ter tido resultado negativo em um primeiro exame para a doença realizado na semana passada, após o secretário de Comunicação de Presidência, Fabio Wajngarten, ter sido infectado com o coronavírus.
Esperava-se que Bolsonaro se resguardasse enquanto aguarda o resultado do segundo teste, mas o presidente disse que não pode “viver preso dentro do Palácio da Alvorada, esperando mais cinco dias, com problemas grandes para serem resolvidos no Brasil”.
Questionado sobre declarações de membros da oposição que veem na crise entre os Poderes uma possível estratégia do presidente para buscar um golpe, Bolsonaro disse que isso é “falta de argumento”. Para o presidente, golpe seria uma tentativa de isolar o chefe do Executivo.
“Não pode um chefe do Poder Executivo viver ameaçado o tempo todo. Seria um golpe isolar o chefe do Executivo por interesses outros, né, que não republicanos.”