Economia

Sergio Werlang defende meta de inflação mais elevada no Brasil

25 jan 2023, 16:22 - atualizado em 25 jan 2023, 16:22
Banco Central
Os formuladores de políticas “se colocaram contra a parede e não sabem como sair de lá”, disse Werlang, ex-diretor de política econômica do Banco Central, em entrevista (Imagem: Banco Central/Antônio Cruz)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abalou os mercados financeiros ao criticar o Banco Central e a meta de inflação do Brasil por ser muito restritiva. Um dos arquitetos do sistema que mantém o crescimento dos preços ao consumidor sob controle concorda – já passou da hora de relaxar a meta.

Sergio Werlang, economista que ajudou a projetar o regime de metas de inflação, diz que as metas de 3,25% para 2023 e 3% para o ano que vem são muito baixas. Ao tentar atingir tais níveis, o Banco Central está sacrificando o crescimento, bem como sua própria credibilidade caso não consiga.

Os formuladores de políticas “se colocaram contra a parede e não sabem como sair de lá”, disse Werlang, ex-diretor de política econômica do Banco Central, em entrevista.

Embora Werlang represente uma visão minoritária nos círculos financeiros do Brasil, muitos no governo concordariam com ele. Desde que Lula assumiu o cargo em 1º de janeiro, foi retomado um debate sobre se as políticas de inflação do Banco Central estão muito rígidas para uma nação em desenvolvimento com dívidas enormes e profundamente suscetível a oscilações nos preços das commodities.

Criador do sistema de metas

A briga sobre as metas de inflação do Brasil segue uma discussão crescente entre economistas e investidores proeminentes sobre o Fed e os bancos centrais dos países desenvolvidos revisarem suas metas de 2%, o que os críticos dizem que faz com que as economias esfriem demais.

Lula, 77, está reforçando o papel do Estado na economia em sua busca para estimular o crescimento e combater a pobreza. Os investidores recusaram os planos quando a inflação anual está bem acima da meta, em 5,79%, e o banco central, sob a liderança de Roberto Campos Neto, superou sua meta nos últimos dois anos enquanto lida com os efeitos da Covid-19.

“Estamos provando agora que pequenos ou grandes choques, como a pandemia, podem perturbar tanto o sistema que voltar a 3% será extremamente doloroso em termos de PIB”, disse ele.

Werlang, 63, sabe melhor do que ninguém como o sistema funciona. Em 1999, o então presidente do Banco Central, Armínio Fraga, convidou Werlang, um ex-colega de classe da Universidade de Princeton, para ingressar no banco e desenvolver e implementar metas de inflação no Brasil.

A maior economia da América Latina sofreu vários surtos de hiperinflação no passado recente. Sob o sistema criado por Werlang, o Conselho Monetário Nacional estabelece uma meta anual de aumento de preços ao consumidor com margem de manobra. Se o Banco Central não conseguir atingi-la, deve explicar ao Congresso por escrito o que deu errado.

O conselho, formado pelo presidente do Banco Central e pelos ministros da Fazenda e Planejamento, deve se reunir em junho para discutir as metas de inflação para 2026 e pode alterar ou reafirmar as metas dos anos anteriores.

Agora, professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, Werlang criticou a decisão do governo de reduzir a meta de inflação de 4,5%, que acredita ser a meta ideal. Depois de manter esse nível por uma década e meia, o governo começou a reduzi-la em 2019.

Rigidez fiscal

Werlang argumenta que o Brasil, ao contrário de seus pares, incluindo Chile e México (que têm meta de inflação anual de 3% este ano), enfrenta muitos compromissos de gastos que são muito difíceis de ajustar rapidamente – algo que ele chama de “rigidez fiscal”. A única maneira de contornar esses compromissos, salvo mudanças constitucionais, diz Werlang, é por meio da inflação, corroendo lentamente direitos e salários.

De fato, de acordo com o Tesouro Nacional, quase 80% das receitas do Brasil são destinadas a salários e aposentadorias do setor público.

Depois da pandemia e a reabertura da economia, o Banco Central iniciou o aperto que levou a taxa básica de juros ao maior nível em seis anos para 13,75% para combater as pressões de preços. O BC prometeu manter os juros firmes já que as preocupações com os planos de gastos de Lula aumentam as expectativas de inflação.

Analistas, no entanto, esperam que o banco continue não atingindo a meta até 2025, mesmo com o crescimento econômico desacelerando para menos de 1% este ano.

Com tão pouco espaço fiscal, “vai custar muito à sociedade continuar baixando a inflação para cerca de 3%”, disse. “Por que simplesmente não aceitamos que precisamos de uma meta mais elevada?”

Campos Neto tem rejeitado a ideia de ajustar a meta, dizendo que o BC teria pouco a ganhar em credibilidade com a mudança.

Werlang concorda que a transição de uma meta de inflação para outra, se não for feita corretamente, pode prejudicar a credibilidade do BC. Mas o mesmo acontece, diz ele, errando o alvo repetidamente.

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