Ser mãe nos torna profissionais melhores, mas por que as empresas não enxergam isso?
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Não sei vocês, mães e pais daqui, mas eu já preenchi quase todos os quadradinhos desta cartela nesses nove anos de carreira materna. Incontáveis vezes. Certa vez, uma amiga psicóloga foi categórica: nasce o filho, nasce a culpa. Eu diria: multiplica-se a culpa, afinal de contas esse sentimento é um dos pilares da moral judaico-cristã, como bem apontou Nietzsche.
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Culpa por trabalhar muito, culpa por não trabalhar. Proteger demais, proteger de menos. Brinquedos demais, brinquedos de menos. A lista é infinita. Buda diz que a virtude está no meio. Quem encontrar esse bendito equilíbrio, favor compartilhar as instruções.
Brincadeiras à parte, a maternidade me fez (re)conhecer algumas inabilidades e pré-conceitos em relação ao próprio ato de moldar pessoinhas para o mundo. E olha que nenhum dos meus filhos foi planejado – não me julguem –, ou seja, eu não era exatamente aquela pessoa que tinha tudo inocentemente idealizado.
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Ser mãe ajuda na carreira? Deveria, mas…
Em 2019, eu tive um momento revelação quando assisti a um comercial sobre uma mãe tentando se reinserir no mercado de trabalho. Chorei. Identificação imediata. Sim, eu estava exatamente na mesma situação, com profundas inseguranças, tentando enxergar para além dos questionamentos alheios sobre os “anos em branco no CV”.
Dali em diante eu mudei não somente minha (auto)percepção, mas também o meu discurso. Num mundo dominado pelo storytelling, sabemos o quão isso é poderoso.
Em resumo, o comercial mostra como as habilidades desenvolvidas na criação e educação de filhos(as) podem (devem!) ser valorizadas pelas empresas: capacidade de assumir riscos, comunicação e oratória, perseverança e constância, entre outras. E se considerarmos aqui as mães e pais de crianças atípicas, esse universo de habilidades se expande ainda mais.
Parênteses para uma ressalva. Como o óbvio é circunstancial, acho importante frisar que a parentalidade não é a única forma de desenvolver tais habilidades, evidentemente. Do contrário, estaríamos simplesmente invertendo o vetor da desigualdade, dos estigmas e dos preconceitos. Fecha parênteses.
Contudo, a realidade é bem diferente: pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas mostra que, 12 meses após o período de licença maternidade, quase metade dessas mães está fora do mercado de trabalho, cuja saída se dá majoritariamente sem justa causa e por iniciativa do empregador.
O convite aqui é para fazermos uma periódica troca de lentes: a necessidade de ajustar o foco para identificar e valorizar saberes e competências nas mais variadas experiências humanas. E aprendermos a tirar o melhor proveito dessa diversidade.
No limite, é sobre o tipo de mundo que estamos construindo. Ou o tipo de “jogo da vida” que queremos jogar. Dia a dia. Partida a partida.
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