Semana terá 8 MPs, guerra comercial, IPCA-15, emprego e ata do Fomc
Os mercados financeiros vão estar sujeitos esta semana aos impactos da guerra comercial entre China e Estados Unidos e à turbulência política no Brasil. Em especial, as atenções dos investidores devem estar voltadas para a investigação do filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro, e a tramitação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da rearenaforma da Previdência na Câmara, principal ponto da reforma fiscal do novo governo de Jair Bolsonaro e sua equipe econômica.
O governo terá um grande teste nesta semana, com a Câmara analisando oito medidas provisórias, uma delas muito importante, a reforma do Executivo, que reduziu o número de ministérios para 23. Assim, os investidores poderão avaliar se o desgaste do governo com o Congresso ocorrido nas últimas semanas pode comprometer essas mudanças e, com elas, a reforma da Previdência.
As derrotas do governo diante do Centrão e a recusa do presidente em negociar com os partidos, bem como os ataques aos acordos políticos, classificados por Bolsonaro como “conchavos”, vão continuar provocando oscilações na bolsa e no dólar.
Leilão de linhas pode acalmar câmbio
Será uma semana de agenda cheia, com investidores digerindo as informações do fim da semana passada, como o novo leilão de linhas em dólar anunciado pelo Banco Central para reduzir a pressão sobre a moeda, que superou os R$ 4,00, e como isso vai afetar o mercado de câmbio, afirma Pablo Stipanicic Spyer, diretor da corretora Mirae Asset.
Há ainda a proposta alternativa da Nova Previdência que os deputados falam em propor, as festas juninas, que podem atrasar as votações no Congresso, o desenrolar da guerra comercial no exterior, tudo isso promete uma semana quente nos mercados, diz Spyer.
A inabilidade política do presidente Bolsonaro em lidar com os parlamentares e seu desgaste com atitudes polêmicas fizeram o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) anunciar em evento que estava se articulando com o presidente do Senado e com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para garantir a tramitação dos projetos, mesmo sem a atuação do presidente Jair Bolsonaro.
Uma espécie de “parlamentarismo branco” para garantir o avanço do ajuste fiscal. Já o relator da comissão especial que analisa a proposta de reforma da Previdência disse que os parlamentares pretendem propor um texto alternativo ao do governo.
Se o presidente agir com de costume, voltando atrás e colocando panos quentes nas críticas, o mercado pode retomar o otimismo. O Índice Bovespa sofreu bastante na semana passada e fechou em 89.992 pontos, perdendo -4,52% na semana. Já o dólar subir, 3,93% na semana, fechando em R$ 4,10, um dos maiores preços desde a eleição de Bolsonaro.
Contingenciamento
O governo deve ainda anunciar na quarta-feira um novo contingenciamento de verbas do orçamento, por conta da queda das receitas em meio à menor atividade econômica este ano. O corte deverá vir junto com a divulgação do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas.
IPCA-15 será destaque de indicadores
Na agenda econômica, cinco indicadores devem chamar a atenção dos mercados. Quatro serão no Brasil, relacionados à inflação. O IPCA-15 de maio, prévia da inflação oficial usada pelo Banco Central (BC) em suas metas, será o principal indicador econômico da próxima semana, destaca o Banco Fator.
“Esperamos que o índice desacelere na comparação mensal, de 0,72% em abril para 0,42% neste mês, mas que a inflação em 12 meses atinja 5,00%”, diz o banco. O índice superaria a meta do BC para este ano, de 4,25%. Mas a expectativa é que a inflação desacelere nos próximos meses.
Segunda prévia do IGP-M
O segundo dado de inflação será a segunda prévia do IGP-M de maio. O Fator espera uma alta de 0,50%, ante 0,78% no período anterior. O IGP-M sai na segunda-feira e o IPCA-15 na sexta-feira. Sem data definida, devem sair na semana que vem a criação de empregos formais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e a arrecadação federal de abril.
Ata do Fomc
O quinto destaque da agenda econômica é no exterior, a ata da reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, banco central americano) do dia 1º de maio. A ata deve dar detalhes do que pensam os diretores do Fed sobre a economia americana e os efeitos da guerra coemrcial. Desses detalhes, devem sair pistas sobre o futuro da taxa de juros nos EUA.
Brexit de volta
No cenário externo, além da guerra comercial de Trump contra a China, a saída do Reino Unido da União Europeia voltará a ser assunto dos mercados. A primeira-ministra britânica Theresa May pretende colocar em votação no início de junho uma proposta de Brexit, mas seguem as chances de rejeição, apesar de a oposição ter esgotado discussões com o governo. Caso isso ocorra, Theresa May deve deixar o cargo de primeira-ministra, avalia Álvaro Bandeira, economista-chefe do Banco Digital Modal.
Já sobre a guerra comercial entre EUA e China, Bandeira observa que a retomada de um diálogo está mais difícil, já que a discussão envolve hegemonia tecnológica, a maior preocupação americana, já que a China vem encurtando fortemente o gap.
Uma notícia boa ficou por conta do alívio de 180 dias anunciado pelo governo americano para importações do setor automotivo europeu e japonês. A medida deve melhorar as relações com asiáticos e, principalmente, com a Alemanha.
Recuperação da bolsa depende da Previdência
Para Bandeira, os ruídos políticos internos são preocupantes e uma recuperação consistente dos mercados só deve ocorrer se acontecer a suavização do ambiente político, já que os indicadores da economia devem seguir fracos. “Se o lado político melhorar haveria espaço para boa recuperação dos preços dos ativos e taxa cambial”.
“Assim, sugerimos prudência na assunção de posições de curto prazo”, diz o economista. “Sugerimos ainda observar o patamar ao redor de 88.000 pontos do índice, que se perdido pode acelerar tendência de baixa”, diz, usando critérios de análise gráfica.
Vale e nova barragem
Entre os papéis da bolsa, destaque para a Vale (VALE3), que continua tendo de administrar os riscos de uma nova barragem que ameaça se romper em Barão de Cocais. No sábado, a empresa fez uma simulação com cerca de 1.600 moradores da Zona de Segurança Secundária (ZSS) da cidade.
ETF de renda fixa
Nesta semana, começam a ser negociados na B3 as cotas do fundo do Tesouro Nacional de renda fixa. O Exchange Traded Fund (ETF) vai acompanhar o Índice de Mercado Anbima série B (IMA-B), que por sua vez reproduz o rendimento dos títulos do Tesouro corrigidos pela inflação, as NTN-B, em circulação no mercado. O ETF permitirá o mesmo rendimento dessa carteira de 13 vencimentos de NTN-B com valores abaixo de R$ 100 e com menos impostos.