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Semana com poucos dados econômicos fica por conta da política

06 fev 2017, 10:27 - atualizado em 05 nov 2017, 14:07

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Os próximos dias devem ser menos tensos para os mercados financeiros, ao menos no que depender do noticiário econômico. Com um calendário de indicadores e eventos sem grande relevância, tanto aqui quanto lá fora, as atenções se voltam ao cenário político. E daí pode surgir novidades, seja em Brasília ou em Washington.

Por enquanto, a perspectiva de que o ambiente internacional pode ser tranquilo nos próximos dias mantém o tom positivo nos negócios, ainda ecoando os dados de emprego nos Estados Unidos na última sexta-feira. As bolsas da Ásia fecharam no azul e os índices futuros em Nova York caminham para novos ganhos, embalados também pela desregulação do sistema financeiro.  

Mas foram os números mistos do payroll – que mostraram mais postos de trabalho, porém, com um crescimento fraco dos salários –  que resgataram o apetite por risco no exterior. O dado levou os investidores a reduzirem as apostas sobre o ritmo de aumento na taxa de juros norte-americana, caindo para cerca de 20% a chance de aperto em março.

Essa possibilidade mantém o dólar mais fraco ante as moedas rivais, o que também favorece as commodities. O won sul-coreano e o dólar de Taiwan lideraram as altas entre as moedas asiáticas, ao passo que o dólar australiano figurava no topo das maiores baixas. Já o petróleo é negociado perto dos maiores níveis desde julho de 2015, em meio às novas sanções ao Irã e com o cartel da Opep alcançando 60% da meta de corte na produção.

O fato é que os investidores continuam céticos em relação ao prognóstico do Federal Reserve, de elevar os juros norte-americanos pelo menos três vezes este ano. Afinal, sem pressão na inflação, o Fed não tem porque agir. Mas esse cenário pode ser transitório e tal tendência pode se reverter à medida que a política econômica de Trump ficar mais clara. Além de março, há ainda outras seis reuniões do Comitê do Fed (Fomc).

A semana com poucos dados econômicos desloca as atenções para o noticiário político também no Brasil. A expectativa é de que o Congresso avance na pauta de reformas, agora que o governo Temer ficou mais tranquilo com a eleição de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara e de Eunício Oliveira na do Senado.

Isso porque o Palácio do Planalto ficou menos dependente do apoio do chamado “Centrão” nas votações e deve obter a adesão necessária para a aprovação da Reforma da Previdência. Uma comissão especial para analisar a proposta já deve ser instalada nesta semana, sendo que a expectativa é de que o Congresso aprove a medida até junho.

A mesma celeridade deve ser dada à reforma trabalhista. Quem também prometeu ser célere foi o novo relator da Operação Lava Jato, Edson Fachin. Ele garantiu manter o ritmo das investigações, o que eleva a apreensão em relação às delações premiadas e possíveis vazamentos.

Entre os indicadores de relevo, o destaque fica com o índice oficial de preços ao consumidor no Brasil em janeiro. O IPCA deve manter uma dinâmica favorável em janeiro, o que levaria a taxa acumulada em 12 meses para algo em torno de 5,5%, aumentando as chances de a inflação fechar 2017 abaixo do centro da meta (4,5%).  

O próprio presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, alimentou uma discussão sobre uma redução da meta de inflação nos próximos anos no Brasil, dizendo que o alvo no longo prazo será de 3%. Trata-se de um nível em sintonia com o praticado em outros países menos desenvolvidos – mas não tão indexados.

De qualquer forma, a perspectiva de convergência para a meta estipulada para o fim de 2017 deve reforçar a confiança na continuidade do ciclo de redução da taxa básica de juros (Selic) por um período prolongado. Hoje, a pesquisa Focus (8h25) deve continuar mostrando queda nas estimativas para inflação e juros neste ano, com uma taxa de câmbio comportada.

Aliás, o mercado doméstico mantém a ansiedade em relação a mudança de postura da autoridade monetária nos negócios com câmbio, após Ilan afirmar que a intervenção do BC pode ser em qualquer direção, dependendo da circunstância. Na sexta-feira passada, o dólar fechou em leve alta com o mercado de olho em uma possível atuação, de modo a reduzir o estoque de swap cambial tradicional, que hoje soma US$ 26,5 bilhões.

Ainda no calendário doméstico, amanhã sai o IGP-DI de janeiro, que deve acompanhar a melhora apurada pelo IGP-M. No exterior, destaque apenas para os dados do setor externo na China. Nos EUA, chama atenção apenas a confiança do consumidor norte-americano, na sexta-feira.

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