Sem surpresas? O que esperar da economia dos Estados Unidos com a vitória de Kamala Harris — ou de Trump
Com uma campanha de apenas cinco semanas, Kamala Harris já aparece à frente do ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos — e tudo indica que a Casa Branca deve permanecer sob o comando dos democratas.
Na última pesquisa da Reuters/Ipsos, divulgada em 29 de agosto, a candidata tem vantagem sobre Trump com 45% das intenções de voto contra 41% do ex-presidente republicano.
Mas não é só a Casa Branca que deve seguir sem mudanças. Pouca coisa na economia norte-americana também deve mudar. Pelo menos essa é a avaliação de Charles Myers, fundador e presidente da empresa de pesquisa Signum Global Advisors.
“O primeiro mandato de Harris (Harris 1) na presidência da maior economia do mundo deve ser semelhante ao governo Biden 2”, disse Myers no Empiricus Asset Day, realizado nesta quinta-feira (5).
“Se Kamala Harris vencer as eleições, haverá muita continuidade [do governo Biden] tanto na política interna quanto na externa. […] Uma das únicas diferenças que Harris apresentou é a proibição federal de aumento abusivo de preços — que estava relacionada a um controle de preços — mas isso nunca vai acontecer”, disse Myers.
Além disso, Harris ‘abraçou’ o plano tributário de Biden, com uma “pequena” mudança: ele propôs aumentar a tributação sobre ganhos de capital de 20% para 28%. O plano do atual presidente, por sua vez, é elevar a alíquota de 20% para 40%.
A medida, porém, deve afetar famílias com renda de US$ 1 milhão ou mais por ano — o que corresponde a cerca de 0,3%.
“É uma fração minúscula dos lares americanos. O problema é que em nosso mundo de serviços financeiros, não é tão incomum”.
Mesmo assim, uma eventual vitória de Kamala Harris, em uma acirrada eleição, é positiva para os mercados.
Isso porque a polarização do país deve “colocar um freio” em qualquer medida que a candidata democrata que seja “muito” transformacional, como aumentar impostos agressivamente ou “fazer quaisquer outras coisas que sejam potencialmente destrutivas de valor para a economia e para os mercados”.
Na política externa, Harris deve seguir a sombra de Biden também.
Ele vai “apoiar Israel quase incondicionalmente, continuar a se envolver com a OTAN em torno da defesa da Ucrânia e continuar a se envolver com nossos aliados no Indo-Pacífico em defesa de Taiwan”.
Mas se Trump vencer?
Se as pesquisas eleitorais estiverem erradas e Donald Trump voltar à Casa Branca, alguns projetos ‘fracassados’ no primeiro governo devem aspirar por uma segunda chance.
O cenário também deve ser positivo para os mercados.
“A maior mudança, se Trump vencer, é que seu objetivo número 1 é fazer todo o possível para garantir que os Estados Unidos se tornem um produtor e exportador ainda maior de petróleo e gás natural”, afirma Myers.
Embora os EUA já sejam autossuficientes em energia, a política do ex-presidente tem por objetivo derrubar os preços do petróleo — o que impulsiona a economia norte-americana frente, principalmente, aos países exportadores de commodity e a Europa.
“Se o preço do petróleo for comercializado estruturalmente mais baixo, isso tem enormes implicações orçamentárias para a Opep+ [Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados] e outras economias que dependem do preço do petróleo para exportações.”
Além disso, o candidato republicano também quer desregulamentar os serviços financeiros, entre eles, a indústria de ativos digitais — as criptomoedas.
Para Myers, a maior preocupação com a vitória de Trump é no comércio e na política externa — principalmente na questão tarifária sobre produtos chineses.
“Não acho que ele fará isso de cara, mas Trump também será muito mais protecionista.”
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Eleições nos EUA: anote no calendário
Segundo Myers, de agora em diante, três datas serão cruciais na corrida eleitoral dos Estados Unidos:
- 10 de setembro: o primeiro debate entre Kamala Harris e Donald Trump na TV;
- 1º de outubro: o debate entre os candidatos à vice-presidência
- 5 de novembro: as eleições presidenciais