Sem opção a não ser vender cana para as usinas, canavieiros lutam contra “mão de ferro” das indústrias
Cresce à beira da ruptura a relação entre fornecedores de cana e a maior representação das usinas brasileiras, a Unica, pela discrepância de posições entre o que as indústrias querem pagar pelos Créditos de Descarbonização (CBios) e o que os produtores defendem.
Juntas, Orplana e Feplana, as duas entidades de canavieiros, prometem manutenção do diálogo, mas não cederão à “mão de ferro” que a entidade industrial está impondo.
Até agora os produtores elegíveis no RenovaBio nada ganham pelos títulos negociados pelas usinas e destilarias referentes às vendas de etanol e biodiesel, buraco que ficou quando da elaboração do programa e, pelo qual, havia um entendimento na cadeia de acerto futuro.
Como eles têm que atender as necessidades de entrega da matéria-prima dentro dos padrões exigidos, como menos conteúdo de origem fóssil na produção, de modo a melhorar a nota de precificação dos CBios, a Orplana e a Feplana pedem que o valor a ser pago seja integralmente.
As indústrias não aceitam e, com “mão de ferro”, segundo as entidades acima, impõem o pagamento de 60% aos fornecedores elegíveis e 50% aos certificados com dados padrão.
A ruptura entre as posições ficou mais evidente há cerca de 10 dias, durante audiência na Câmara dos Deputados a cerca da PL 3149/20, que trata dessa mudança. Em nota, a Orplana classificou como “deselegante” a postura do presidente da Única, Evandro Gussi, por “deixar de mão atadas” o setor produtivo independente.
Mãos atadas porque os canavieiros não têm outra opção. A cana, afinal, só tem um destinatário, a usina, ao contrário dos grãos, por exemplo, que podem ser negociados in natura.
Não há outra alternativa a não ser processamento.
E por desqualificar os dados técnicos que embasam o pleito e sem que fossem apresentados, também, argumentos técnicos por parte das indústrias.
A Feplana, com base mais nacional, envolvendo 60 mil fornecedores, endossa a nota da Orplana.
Alexandre Lima, presidente, há dois anos, desde a implantação do RenovaBio, está a frente da causa, tanto que a Coaf, cooperativa presidida por ele na Zona da Mata Norte de Pernambuco, é a única empresa até agora a honrar 100% dos Cbios aos seus cooperados.
“E agora vamos nos recertificar para aumentar a nota de todos”, diz Lima, que também preside a associação estadual de produtores (AFCP).
A Unida, que agrega produtores nordestinos, igualmente endossa a disputa.