Sem Häagen-Dazs, Nestlé pula sobremesa e vai direto para o café
O presidente da Nestlé, Mark Schneider, continua reduzindo o açúcar e a gordura da dieta da empresa. A questão é o que o executivo usará como substituto para estimular o crescimento da maior companhia de alimentos do mundo.
No segundo maior desinvestimento liderado pelo CEO, a empresa suíça vendeu os ativos no segmento de sorvetes nos Estados Unidos para uma joint venture com a firma de private equity PAI Partners por US$ 4 bilhões.
Isso acrescenta as marcas Haagen-Dazs e Drumstick às barras de chocolate Baby Ruth e Butterfinger na lista de desinvestimentos de Schneider. A unidade de frios Herta e duas marcas chinesas de alimentos e doces em crise ainda estão à venda. A Nestlé já havia reforçado o caixa com a venda da unidade de cuidados com a pele por US$ 10 bilhões no início deste ano.
Schneider disse que seu foco são categorias em crescimento, como café, ração, alimentos para bebês, água e saúde do consumidor. Na mais recente atualização sobre a situação financeira da Nestlé, o executivo mostrou apetite por aquisições. Desde que assumiu o cargo há quase três anos, no entanto, fez mais vendas do que compras.
É aí que mora o dilema da Nestlé: a fabricante do Nescafé e dos alimentos congelados Stouffer já desfruta de uma posição dominante em muitos mercados, o que significa que grandes aquisições seriam complicadas devido a questões de concorrência. Acordos menores não fazem muita diferença.
Restrições
“A Nestlé é um pouco mais contida quando se trata de grandes aquisições, porque nas áreas em que quer crescer, já é um participante muito forte”, disse Patrik Schwendimann, analista da Zuercher Kantonalbank.
Até agora, a maior aquisição de Schneider foi o gigante acordo de US$ 7,2 bilhões fechado no ano passado pelos direitos de comercializar produtos da Starbucks, como as cápsulas de café para o sistema Nespresso. A Nestlé também pagou US$ 2,3 bilhões pela fabricante de suplementos alimentares Atrium Innovations.
Mas a Nestlé está sentada em uma pilha de dinheiro, e seu atual programa de recompra de ações, de US$ 20 bilhões, pode ser reduzido em caso de grandes aquisições. A empresa também possui uma participação de 23% na L’Oreal, que pode ser vendida para financiar compras. Alguns investidores viram a compra da Atrium como um sinal de que Schneider planeja expandir o negócio de saúde do consumidor.
“Espero uma aquisição maior – o ponto de interrogação está no tempo”, disse Alain Oberhuber, analista do MainFirst Bank. Ele prevê novos desinvestimentos em 2020, antes que Schneider dê o passo para uma grande aquisição em nutrição médica ou ciências da saúde por volta de 2021.
Um representante da Nestlé não quis comentar.