Mercados

Dólar abaixo de R$ 6 está com dias contados; UBS vê moeda em R$ 6,40

31 jan 2025, 11:13 - atualizado em 31 jan 2025, 11:52
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Arend Kapteyn, economista-chefe do UBS e Alejo Czerwonko, diretor de investimentos de mercados emergentes nas Américas do UBS Global Wealth. (Imagem: Divulgação UBS)

O alívio visto nas últimas semanas no dólar pode estar com os dias contados. Atualmente abaixo dos R$ 6, os economistas do UBS projetam que a moeda pode chegar ao final de 2025 em R$ 6,40.

Após a posse de Donald Trump, no dia 20 de janeiro, os mercados sentiram um alívio ao observar que as medidas tarifárias não vieram de imediato para todos os países como o presidente estava afirmando dias antes. No entanto, o economista-chefe do UBS, Arend Kapteyn, avalia que esse otimismo é equivocado.

“Está muito claro que ainda há um debate nos bastidores, não apenas sobre as tarifas da China, mas sobre as tarifas globais. A razão pela qual não vimos nada ainda é porque é muito complicado. Você precisa, efetivamente, de um processo de consulta de seis meses para poder fazer isso. Então, acho que o fato de ele não ter anunciado não significa que não esteja acontecendo”, disse Kapteyn para jornalistas em evento realizado pelo banco em São Paulo. 

Essa recente desvalorização do dólar e a leve valorização do real são justificados também por outras questões. Para o diretor de investimentos de mercados emergentes nas Américas do UBS Global Wealth Management, Alejo Czerwonko, a fraqueza da moeda americana vem após reprecificação das expectativas para a política monetária do Federal Reserve (Fed) associada à reação controlada do mercado às políticas de Trump.

Já em relação à moeda brasileira, a valorização reflete o movimento técnico de alívio, após um desempenho fraco em dezembro e no início de 2024. Czerwonko avalia também que os fundamentos locais seguem pressionados, com desafios fiscais persistentes, o que sugere que a moeda pode voltar a se depreciar ao longo do ano.

“Domesticamente, estamos achando muito difícil identificar gatilhos positivos. A história fiscal pesará durante boa parte do ano. Novembro foi apenas um lembrete de que a administração atual não está disposta a enviar um sinal forçado na direção da responsabilidade fiscal. E se eles ainda não fizeram isso, então, vemos poucas razões para que o façam”, afirmou o diretor.

A projeção apontada para o real é de R$ 6,20 a R$ 6,40 no horizonte de seis a 12 meses, com reflexo do externo e, principalmente, da deterioração fiscal que é o “calcanhar de Aquiles” do Brasil, segundo os economistas.

Em uma comparação simplista, Cerwonko chamou atenção para Argentina, sob o comando de Milei, que adotou um ajuste fiscal agressivo, o que ajudou a impulsionar a confiança do mercado, refletindo-se em uma forte valorização dos ativos locais. Já o Brasil seguiu na direção oposta, com a política fiscal sendo vista como um fator de risco contínuo.

“Isso mostra um país que fixou o fiscal da noite para o dia e outro país que se recusou a fixar o fiscal de qualquer forma. Há muitos outros fatores, claro, estou simplificando”, ressaltou.

Impacto das políticas de imigração

Sobre as políticas relacionada aos imigrantes ilegais nos Estados Unidos, os economistas avaliam que Trump está sendo mais agressivo do que o esperado, sendo esta uma das suas primeiras medidas assim que assumiu o poder. Czerwonko entende que talvez não seja possível atingir os níveis desejados de deportação pela questão logística, mas que as pessoas nomeadas para cuidar dessas questões tem um perfil agressivo.

“Os números que ele fez campanha não são possíveis. Ele disse que queria deportar de 7 a 11 milhões de pessoas. Isso é logisticamente impossível. Seria o equivalente a deportar todo o estado de Nova Jersey. É como 4% ou 5% da força de trabalho. Você não pode fazer isso”, defendeu Czerwonko.

Segundo o diretor de investimentos de mercado emergentes, o nível normal de deportações anuais seria de cerca de meio milhão de pessoas e que sabem que Trump elevará esse número. O mercado tenta calcular o número correto, já que este é um fator importante para determinar o impacto inflacionário da medida no país.

O que esperar para o Brasil na Era Trump

Em linhas gerais, os executivos destacam que o Brasil pode se beneficiar com muitas oportunidades em um cenário global de fragmentação – com Trump impondo tarifas e políticas protecionistas, e outros países como a China respondendo a isso.

“O Brasil precisa jogar suas cartas direito, ou seja, ter uma boa relação com os EUA, uma boa relação com a China, com a Europa e extrair concessões. Eu ainda acho que isso é possível. Você precisa de muita diplomacia e planejamento para conseguir isso”, destacou Czerwonko.

Em um mundo o qual tem se falado muito sobre segurança energética, segurança alimentar, transição verde, o banco entende que o Brasil possa ser “parte da solução dos problemas”, mesmo que os Estados Unidos estejam recuando nas questões “verdes”. Trump já sinalizou sua intenção de retirar os EUA do acordo de Paris.

No entanto, mesmo com essa visão otimista, as ações das empresas brasileiras apresentam uma relação preço/lucro 40% inferior a dos mercados emergentes e às ações americanas.

O diretor de mercados emergentes atribui a cautela dos investidores ao cenário nebuloso e baixa visibilidade para que possam entrar nesse momento. Segundo ele, não há garantia de que quem quer que venha a liderar o país na próxima eleição seja significativamente diferente de quem lidera o país hoje.

“Acho que esse [momento] é um bom ponto de entrada, se você estiver disposto a fechar os olhos e esperar por 2026, mas quantos investidores hoje em dia estão dispostos a fazer isso?”, disse Czerwonko.

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Jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, atua há 3 anos na redação e produção de conteúdos digitais no mercado financeiro. Anteriormente, trabalhou com produção audiovisual, o que a faz querer juntar suas experiências por onde for.
juliana.caveiro@moneytimes.com.br
Jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, atua há 3 anos na redação e produção de conteúdos digitais no mercado financeiro. Anteriormente, trabalhou com produção audiovisual, o que a faz querer juntar suas experiências por onde for.
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