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Sem garagens e próximos ao metrô; entenda a transformação dos apartamentos em São Paulo

21 fev 2022, 12:49 - atualizado em 22 fev 2022, 9:38
São Paulo
63% dos imóveis lançados na capital paulista no ano passado não têm garagem (Imagem: Pixabay)

Os apartamentos de médio e alto padrão (MAP) da capital paulista se transformaram nos últimos dois anos. Imóveis sem garagem representaram 44% dos lançamentos do segmento no ano passado ante 29% em 2019, segundo dados do Secovi-SP.

Quando as unidades econômicas, majoritariamente do programa Casa Verde e Amarela, são adicionadas na equação, a porcentagem de imóveis sem vaga de garagem sobe para 63% — de um total de 81,8 mil lançamentos.

Outra característica marcante é a localização: a grande maioria dos apartamentos sem garagem estão localizados próximos ao metrô – como é possível observar no mapa do Secovi-SP obtido pelo Money Times.

Apartamentos sem garagem lançados em 2021 concentram-se próximos ao metrô (Imagem: Secovi)

Para Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a mudança no perfil do produto imobiliário — para apartamentos sem garagem e próximos ao metrô — pode ser considerada como resultado prático da revisão do Plano Diretor Estratégico de São Paulo, que ocorreu em 2014.

Bonduki, que foi relator do Plano Diretor à época, explica que antes da revisão, os edifícios residenciais eram obrigados a oferecer uma vaga de garagem para cada apartamento com até 200 metros quadrados.

Para os apartamentos entre 200 e 500 metros quadrados, a lei obrigava a construção de duas vagas. Acima dessa metragem, três vagas.

Após 2014, no entanto, a obrigatoriedade deixou de existir e a proposta da prefeitura passou a ser “otimizar o aproveitamento da terra ao longo da rede de transporte público coletivo de média e alta capacidade”, conforme o Projeto de Lei de Revisão do Plano Diretor Estratégico (PL 688/13).

“É muito positivo termos imóveis de médio padrão sem garagem e próximos ao metrô”, diz Bonduki. “Isso significa uma mudança importante no modelo de cidade, que vem desde meados do século passado, no qual a classe média utiliza o automóvel para se deslocar trazendo todas as consequências do trânsito, como poluição, emissão de dióxido de carbono (CO2) etc”.

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Unidades populares

Se por um lado houve um aumento no lançamento de apartamentos sem vaga de garagem no ano passado, por outro, as habitações econômicas concentraram-se, sobretudo, em regiões afastadas do centro e longe do metrô, como Sacomã, Pirituba e São Mateus, de acordo com o Secovi-SP.

Já os imóveis mais caros ocuparam áreas bem abastecidas pela rede de transporte público, como Itaim Bibi, Pinheiros e Saúde.

“É lamentável que não exista uma produção [relevante] de habitações sociais próximas ao metrô e em áreas mais próximas aos empregos”, enfatiza o professor Bonduki.

O arquiteto e urbanista lembra que a construção de moradias populares no centro expandido de São Paulo também é um dos objetivos do Plano Diretor, que “não está sendo cumprido, em grande parte, por [inércia] do poder público”.