Economia

Sem apoio do mercado, Lula oferece BNDES para Argentina; relembre ‘caixa-preta’ do banco

24 jan 2023, 13:30 - atualizado em 24 jan 2023, 13:30
BNDES
Argentina espera receber US$ 689 milhões do BNDES para construção de gasoduto. (Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiará parte das obras do gasoduto argentino Néstor Kirchner.

O país já concluiu a primeira fase de construção do gasoduto e agora busca financiamento para construir o trecho de 500 km que lugam os campos de óleo e gás da região de Vaca Muerta até San Jerónimo.

No mês passado, a secretária de Energia da Argentina, Flavia Royón, afirmou que o país espera receber US$ 689 milhões do BNDES.

“O BNDES voltará a financiar as relações comerciais do Brasil e projetos de engenharia para ajudar empresas brasileiras no exterior e para ajudar os países vizinhos, que possam crescer e vender o resultado desse enriquecimento para países como o Brasil”, disse Lula em coletiva de imprensa.

Ele também garantiu que o país criará condições para financiar iniciativas para o gasoduto.

O Ministério da Fazenda anunciou que já estuda formas de garantir linhas de crédito de bancos privados e públicos para exportações brasileiras para Argentina.

Procurado pelo Money Times, o BNDES não se pronunciou até o momento da publicação desta matéria.

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Sem apoio do mercado

A notícia não agradou o mercado financeiro, que relembrou dos antigos mandatos do PT, no qual o governo usou o BNDES para investir em Cuba e na Venezuela. Até hoje, os países não pagaram suas pendências junto ao banco.

Além disso, o Banco do Brasil deve liderar as operações de crédito para comércio exterior garantidos pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE).

Segundo o presidente, a atuação dos bancos públicos deve “ajudar que países vizinhos possam crescer e vender o resultado desse enriquecimento para o Brasil”.

“Somos criticados por pura ignorância, pessoas que acham que não pode haver financiamento para outros países. E eu acho que, não só pode, como é necessário que o Brasil ajude a todos os seus parceiros nas possibilidades econômicas do nosso país”, afirmou.

“Um volume expressivo de crédito subsidiado, como ocorreu no 1º mandato de Dilma, resultou em uma má alocação de recursos na economia, em efeitos negativos na produtividade, na redução da potência da política monetária e no aumento da taxa neutra de juros”, relembra Rafael Passos, analista da Ajax Capital.

Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, aponta para o risco da dívida argentina.

“O setor de avaliação de crédito do banco deverá considerar que o anúncio de Lula foi feito para um país que está, novamente, renegociando a dívida, cuja execução de garantias não é tão crível. Pontuamos que a maior fonte de recursos do BNDES é oriunda do Fundo de Amparo ao Trabalhador, que gere recursos do PIS/PASEP”, diz.

Segundo Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, a Argentina vive uma crise profunda, com inflação beirando os 94% ao ano. Isso coloca leva o mercado a desconfiar que será o Brasil a resgatar a economia baqueada dos nossos vizinhos.

“Lembremos das linhas de crédito do BNDES à Venezuela, na construção do Metrô de Caracas, negociações desvantajosas com a Bolívia, nos oleodutos de gás, além da construção do Porto de Mariel, em Cuba”, afirma.

A caixa-preta do BNDES

Em 2019, o BNDES passou por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar irregularidades no banco e indícios de crimes como corrupção e formação de quadrilha envolvendo financiamento de obras no exterior e a internacionalização de empresas brasileiras entre 2003 e 2015.

Os documentos apontaram que as operações beneficiaram grupos empresariais, como a construtora Odebrecht e o grupo JBS.

Na época, foram indiciados nomes ligados ao PT, como os ex-ministros Guido Mantega e Celso Amorim.