Economia

Selic X PIB: esqueça a alta dos juros; o que ameaça a economia é a falta de vacinas

18 mar 2021, 13:14 - atualizado em 18 mar 2021, 13:23
Banco Central BCB
Elogios: economistas gostaram da firmeza do Banco Central ao elevar a Selic para 2,75% (Imagem: Beto Nociti/Banco Central/ Flickr)

A falta de um programa efetivo de imunização em massa contra o coronavírus é uma ameaça bem maior ao crescimento do Brasil, em 2021, do que o início de um novo ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), segundo os economistas ouvidos pelo Money Times.

Como se sabe, o Copom anunciou, ontem (17), a primeira alta da Selic em seis anos – e numa intensidade acima do esperado pela maioria do mercado. A taxa subiu 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano, e a autoridade monetária já avisou que outro ajuste, do mesmo tamanho, virá na próxima reunião.

O anúncio ressuscitou o velho debate entre a indústria, que teme pela recuperação da economia, e o mercado financeiro, que defende um combate austero à inflação. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) foi uma das primeiras representantes do setor produtivo a criticar a decisão.

“Entendemos que a elevação da Selic neste momento é precipitada e dificulta o cenário para a atividade econômica em 2021, que já enfrenta inúmeros desafios em razão da persistência da pandemia”, afirmou a entidade em nota distribuída à imprensa ontem (17).

“O ritmo lento de vacinação é um risco maior à economia, do que a Selic”, afirma Elisa Machado, principal economista da gestora ARX Investimentos no Brasil. “Na prática, a Selic de 2% já não existia”, acrescenta. “As condições financeiras vinham se deteriorando desde o ano passado, e a taxa de 2% já não tinha efetividade para a economia”, explica.

Taxa decorativa

Carlos Lopes, economista do Banco BV, concorda. “O Banco Central só confirmou o que o mercado já esperava”, diz. “A Selic é referência apenas para operações de curtíssimo prazo; quando se olha para os juros de longo prazo, a expectativa de alta já estava lá”, acrescenta.

Para Machado e Lopes, alguns exemplos de que o Brasil já havia superado a Selic de 2% há tempos são as taxas de juros praticadas pelo mercado em operações de crédito e contratos futuros.

Quanto mais, melhor: só vacinação em massa permitirá que economia volte a funcionar plenamente (Imagem: Governo de São Paulo/Reprodução)

“A curva de juros já tinha andado, a inflação já estava alta e o crédito já estava mais caro”, resume Machado, da ARX, uma das poucas economistas que já apostavam numa alta de 0,75 ponto na reunião de ontem. “Já era hora; estava muito preocupada com a deterioração das expectativas”, diz. “Havia um risco muito grande de contaminar as expectativas de 2022”.

Para Lopes, do BV, há outro bônus, quando o Banco Central joga duro contra a inflação e mantém sua credibilidade. “Se o mercado percebe que o BC é leniente com a inflação, a taxa de juros da dívida pública sobe”, explica.

Isso não quer dizer que a decisão de ontem não pese nos cofres públicos, já que parte da dívida é atrelada à Selic. Mas, neste ponto, os economistas são unânimes em dizer que não é papel do Banco Central administrar a dívida pública. Isso compete ao governo e ao Congresso. Os mesmos responsáveis pela letargia da vacinação em massa e, por tabela, da eventual anemia do PIB em 2021.