Economia

Selic nas alturas: O novo fator que poderá pressionar ainda mais os juros, segundo economista do JPMorgan

07 out 2024, 18:24 - atualizado em 07 out 2024, 20:17
Cassiane
Nas últimas semanas, o país lançou pacote de estímulos para reanimar a economia, o que pode ser mais um fator de preocupação (Imagem: Divulgação)

A taxa básica de juros voltou a subir na última reunião do Copom, de setembro, em um início de ciclo que poderá ter, pelo menos, mais três aumentos, com uma taxa terminal em torno de 12%.

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Tudo isso porque as expectativas pioraram em meio à economia aquecida, mercado de trabalho forte e um fiscal do governo que ainda gera desconfiança.

Não bastasse tudo isso, um fator poderá entrar nessa conta: a seca. O Brasil vive a maior estiagem já vista na sua história recente, segundo órgão de monitoramento do governo federal.

A falta da chuva já chegou nas tarifas de energia, com a agência do setor elétrico, a Aneel, elevando a bandeira para vermelha 2, o patamar mais alto.

Em evento na Bloomberg Linea, Cassiana Fernandez, head de pesquisa econômica para a América Latina do JPMorgan, disse que a seca já começa a afetar os preços.

“O Banco Central tem que ficar muito cauteloso com os efeitos da segunda onda de inflação”, discorre.

Os economistas consultados pelo Banco Central elevaram as projeções para a inflação deste ano de 4,37% para 4,38%, segundo o Boletim Focus da última segunda-feira (7).

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China é outra preocupação

Já David Beker, do Bank of America e que também participou do evento, diz que havia esperança de que uma China mais fraca derrubasse as projeções de inflação.

Porém, nas últimas semanas, o país lançou pacote de estímulos para reanimar a economia, o que pode ser mais um ponto de atenção.

Hoje, eu diria que estamos um pouco mais preocupado, que, basicamente, os estímulos estão acontecendo e, ultimamente, os preços commodities não vão cair tanto ou não vão cair mais além do que a gente já viu”, diz.

Outro ponto de desinflação, os preços do petróleo, também voltaram a disparar com a tensão entre Israel e Irã, que junto com a alta do dólar, irá fazer com que uma queda dos combustíveis, que chegou a ser especulada, vá por água abaixo.

Selic a um dígito é devaneio?

Segundo Leonardo Porto, economista-chefe do Citi, ter uma Selic em dois dígitos vai ser muito mais uma norma do que uma exceção.  No começo do ano, alguns economistas chegaram a projetar uma taxa de juros de um dígito, porém tudo mudou com os dados recentes.

“O Brasil não foi capaz de colocar a taxa Selic em um dígito depois da recessão de 2008. Então, a gente nunca tinha visto a Selic em um dígito. Quando eu vejo as condições domésticas e externas hoje, eu acho que a gente está muito mais parecido com pré-2008 do que com 2008″, discorre.

Porto recorda que os juros globais estão mais altos, enquanto o Brasil viu a sua dívida pública piorar.

“A dívida era cadente (que apresenta ou aparenta uma trajetória de queda). Hoje, temos uma dívida de 78%  próxima e ascendente no tempo, porque a gente gera déficit primário. Então o risco fiscal é muito mais alto do que era pré-2008″, recorda.