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Selic: Mesmo em alta, inflação não será controlada e fome pode aumentar no 2º semestre

17 mar 2022, 14:46 - atualizado em 17 mar 2022, 14:46
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Inflação está subindo nos últimos anos (Pixabay)

O Banco Central ajustou a Selic, taxa básica de juros do Brasil, em 1 ponto percentual, indo de 10,75% para 11,75%, nesta última quarta-feira (16). O ajuste já era esperado por economistas.

O avanço da taxa é uma tentativa de frear a inflação, tendo em vista que, com juros maiores, a tendência é de uma diminuição do consumo das famílias, o que pode diminuir as altas porcentagens inflacionárias.

De acordo Alberto Azjental, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a alta da Selic não vai controlar a inflação e a fome pode aumentar no 2º semestre.

Em primeiro lugar, o economista afirma que a inflação atual não é causada por alta demanda nacional, ou seja, não há uma fila imensa de pessoas para comprar produtos — ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, por exemplo.

Sendo assim, ele enxerga que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia é um grande fator para a alta dos preços que teremos esse ano, principalmente pela disparada dos combustíveis, ocasionada pelo avanço do preço petróleo.

Ele comenta também que a guerra no leste europeu tende a pressionar os preços dos fertilizantes, tendo vista que a Rússia cortou a exportação do produto.

“Podemos ter uma inflação de alimentos forte pela falta de fertilizantes e pela quebra de produção, mas isso mais para o final do ano, e também em diante”, afirma.

“Podemos ter uma inflação de alimentos forte por falta de fertilizante”, afirma (Imagem: Pixabay/volzi)

Nessa linha, o peso sobre os alimentos será grande, visto o crescimento dos custos, que serão puxados pela alta dos fertilizantes e do transporte (com o preço dos combustíveis em um patamar elevado).

“O nosso problema, principlamente, é que tem muita gente desempregada. E a economia brasileira está ruim. Então, esses fatores externos farão com que o brasileiro não consiga comprar nem a própria comida”, explica Azjental.

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Elevação da Selic vai aumentar o desemprego

Para o economista e professor Paulo Feldmann, da Universidade de São Paulo (USP), a alta do juros provoca um menor apetite das companhias para adquirirem  investimentos, tendo em vista que o custo para empréstimos fica mais caro.

Ele afirma também que com um juros maior, a economia fica mais lenta, de modo geral, com pessoas consumindo menos e, consequentemente, empresas lucrando menos.

Para Feldman, desemprego pode aumentar no no Brasil(Imagem: REUTERS/Amira Karaoud/File Photo)

“Desse forma, com economia não crescendo e empresas não lucrando tão bem, os empresários que normalmente geraria um emprego não vão gerar, porque é mais atrativo comprar títulos do governo do investir no setor privado, ainda mais com todas as incertezas e riscos que nós temos”, diz.

Feldman comenta ainda que com o avanço do desemprego, a fome também vai aterrorizar muitos brasileiros em 2022.

“O desemprego aumentando é uma das razões mais importantes para aumentar a pobreza e, consequentemente, a fome, ainda mais com a inflação crescendo em um país que não tem crescimento econômico”, conclui.

Aumentar a Selic era a melhor escolha para o BC?

Segundo o professor da FGV, o Banco Central “está sozinho” na briga contra a inflação e a única tentativa que a autarquia possui é de elevar juros, mesmo que isso não gere um grande resultado.

“Os economistas do Banco Central seguiram o livro, o que manda a teoria econômica. Então, a única coisa que eles podem fazer é subir ou descer os juros e mesmo que o juros suba mais ao longo do ano, acho muito difícil ele passar da marca dos 14,25% ao ano”, comenta.

Já  Feldman é um pouco ousado e diz que uma das formas de controlar a inflação sem aumentar os juros seria trazer dólares para o Brasil, tendo em vista que, com isso, o valor da moeda em relação ao real poderia diminuir.

“O Brasil tem dinheiro investido em títulos dos EUA. Sendo assim, o governo devia desmobilizar uma parte do dinheiro que está aplicado lá e injeta-lo aqui. Com isso, a gente vai ter uma quantia suficiente de dólar no Brasil, que vai fazer com que o real se fortaleça”, afirma.