É hora de os bancos privados oferecerem dinheiro grosso aos agricultores, e não crédito subsidiado
Muito provavelmente o Banco Central não olhou algumas microconjunturas ao cortar a taxa Selic para 4,5% ao ano, tampouco não deve ter sido incentivado pelo governo a fazê-lo olhando um ou vários setores econômicos. No caso do agronegócio especificamente vai ser um bom negócio para os produtores e para o a condução programática da economia.
Os bancos poderão criar linhas de crédito com recursos próprios e o governo sai de vez do financiamento subsidiado, deixando o setor privado que se entenda.
Dos dois lados do balcão há quem veja que as linhas subsidiadas oferecidas, travadas a juros de 6% a 8% ao ano, deixarão de ser atraentes para os tomadores do campo – até porque muito pouco delas chegam de fato aos produtores – e as instituições vão ter que oxigenar o mercado com linhas próprias.
“Moderfrota, BNDES e crédito rural, entre outras, perderão competitividade”, avalia Gustavo Bastos Soares, consultor de agronegócio do Bancoob, braço financeiro do sistema Sicoob.
Se quiserem “remunerar o portfólio, vão ter (as instituições financeiras) que buscar os produtores rurais”, explica por sua vez o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, que enxerga ainda grandes possibilidades de, de fato, haver competitividade dentro do sistema.
Previsão antecipada
Além disso, o spread das instituições também cairá de acordo com o perfil de cada uma, motivo adicional para a competividade na ponta da oferta de financiamento.
Para da Luz, a situação de que haveria juros livres abaixo dos praticados no crédito das linhas oficiais chegou antes do esperado por ele, que teria previsto para junto de 2020. A sua estimativa foi feita em abril, quando do anúncio do Plano Safra, ao ficar mais evidente a intenção do governo de diminuir sua participação nesse mercado, incentivando cada vez mais o setor privado a assumir esse papel.
Com as condições macroeconômicas no Brasil e no mundo mais favoráveis, segundo o economista, o Banco Central/Copom se antecipou ao corte dos juros básicos, que também vai ajudar os tomadores de recursos nas linhas mais caras do mercado.
Como Money Times abordou ontem (12), muitos pequenos produtores não têm acesso à linhas subsidiadas e se socorrem de capital de giro no limite do cheque especial ou do cartão de crédito, que deverão ficar mais baratas.
Nesse novo capítulo, não significa que o governo deva sair de vez do seu papel regulatório.
Os produtores rurais, assegura o representante da Farsul, querem que o governo agora “encoraje” o agentes atuarem no seguro rural de forma mais eficiente.
“Ao invés do governo jogar R$ 5 a R$ 6 bilhões no crédito, que nunca chega a todos e cujo subsídio é capturado pelos bancos, esses recursos precisam ir para o seguro”, afirma Antônio da Luz.
Com crédito mais competitivo e seguro rural, o produtor põe a cabeça no travesseiro e dorme, brinca o economista.