Selic: Lula diz que presidente do BC não pode dar ‘cavalo de pau’ na política de juros
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (30) ter consciência de que o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não pode dar um “cavalo de pau” na gestão da política monetária, ressaltando que a alta de juros anunciada na quarta-feira (29) já estava demarcada pelo presidente anterior da autarquia.
Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, Lula disse que já esperava a decisão do Banco Central (BC) de elevar a Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e acrescentou que o governo fará sua parte enquanto a autoridade monetária atua para baixar a inflação.
“Uma pessoa que tem a experiência de lidar com o Banco Central como eu tenho tem consciência de que, em um país do tamanho do Brasil, o presidente do BC não pode dar um cavalo de pau num mar revolto de uma hora para outra”, afirmou.
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Lula ainda elogiou Galípolo, dizendo que o presidente do BC é competente e tem 100% de sua confiança, e argumentou que “não esperava milagre” na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Para ele, é preciso ter paciência para que os juros caiam.
“Já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente (Roberto Campos Neto), e o Galípolo fez o que ele entendeu que deveria fazer. Temos consciência de que é preciso ter paciência”, disse.
Na quarta-feira, o BC decidiu seguir o ritmo de aperto nos juros já previsto ao elevar a Selic em 1 ponto percentual e manteve a orientação de mais uma alta equivalente em março, deixando os passos seguintes em aberto.
A decisão ocorreu na primeira reunião do Copom com Galípolo na presidência da autarquia. Neste mês, o colegiado também passou a ser composto majoritariamente por diretores indicados pelo governo Lula, com sete dos nove membros.
Para Lula, Galípolo criará condições para entregar uma taxa de juros menor “no tempo que a política permitir”, reafirmando que o presidente do BC “tem autonomia de verdade”.
Fiscal
Na entrevista, Lula também afirmou não ver necessidade de novas medidas fiscais, mas ponderou que poderá reavaliar essa visão a depender do cenário.
Para ele, o Brasil vai continuar crescendo, a massa salarial vai aumentar e o salário mínimo vai continuar sendo reajustado acima da inflação, “tudo isso sem ameaçar a estabilidade fiscal”, assegurou.
De acordo com o presidente, o déficit primário de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) observado em 2024 — ainda não divulgado oficialmente — pode ser considerado um déficit zero.
A meta fiscal do ano passado era de déficit zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB.
Ele enfatizou que um cenário de estabilidade fiscal é muito importante para seu governo e que buscará o menor déficit possível.
Inflação
Em meio às discussões do governo sobre medidas para reduzir a inflação de alimentos, o presidente disse que não adotará nenhuma ação “de bravata” e não vai implementar nenhuma medida que estabeleça um mercado paralelo.
Ele afirmou que o governo quer incentivar o aumento da produção no país e acrescentou que vai conversar com produtores de carne para avaliar a necessidade de adotar medidas para que esse mercado “volte à normalidade”.
Em relação ao sistema anunciado pelo governo para ampliar a concessão de financiamentos com desconto em folha para trabalhadores privados, Lula disse que esse será o maior programa de crédito do país, ponderando que a efetivação da medida ainda depende de ajustes jurídicos.