Selic de um dígito não será mais possível? Oportunidade pode ter ficado no passado, diz Sergio Vale
“Perdemos a oportunidade de ter a taxa Selic a um dígito”, avaliou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ao ponderar a decisão do Banco Central brasileiro quanto à taxa de juros.
Nesta quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por manter a taxa Selic no patamar de 10,50% ao ano, em decisão unânime.
- Selic acima dos 10%: este é o momento para comprar ações brasileiras “em promoção”, diz analista. Veja as 10 top picks da Empiricus Research, neste relatório gratuito.
Apesar de os mercados reagirem bem à unanimidade – que foi o que gerou estresse na decisão anterior –, esse “detalhe” já estava no radar dos analistas, visto a afirmação constante de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), de que a decisão dividida de maio foi técnica.
No entanto, Sergio Vale, que esteve no programado do Money Times, Giro do Mercado, nesta quinta-feira (20), ressalta que as preocupações de base seguem as mesmas com relação ao fiscal. Para ele, o governo ainda não sinalizou adequadamente o que precisa ser feito.
“20 anos depois do primeiro mandato [do presidente Lula], as questões fiscais hoje são muito mais complexas e demandam respostas muito mais impopulares. Você precisa mexer em cortes de gastos que, em um ano eleitoral em que ele não está tão popular quanto antes, demandam um certo cuidado”, pondera.
Além do fiscal, outro ponto que preocupa o economista é a troca da presidência do BC e de outros dois diretores no final do ano, que serão substituídos por indicações do presidente da república, como de praxe.
O presidente Lula disse, na terça-feira (18), que sua vontade é colocar pessoas com perfis diferentes do que o mercado gostaria de ver e que indicará para a presidência alguém que tenha “compromisso com o crescimento do país”.
- Leia também: ‘Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central’, critica Lula em pleno Copom
Sergio Vale entende que o presidente gostaria de pessoas que não olhem apenas para a inflação e, sim, para outras questões, mas que isso gera dúvidas ao mercado em relação à condução da política monetária e dos nomes que possam surgir. “Infelizmente, essas são dúvidas que não acalmam e que colocarão nos próximos meses mais estresse no mercado do que calmaria”, pontua.
Durante sua participação na live, o profissional também falou sobre os impactos do mercado internacional e sobre o câmbio pressionado, que pode trazer consequências para a inflação brasileira e traz incertezas sobre subir ou não as taxas. “No curto prazo, a chance maior é de subir a Selic do que cair”, avalia.