Selic em alta empurra investidor também para debêntures; vale a pena investir?
A perspectiva de alta da taxa básica de juros, a Selic — que já chega a 9,25% ao ano —, empurra parte dos investidores para as debêntures, em um reflexo da busca por maior segurança em momento de grande volatilidade no mercado de ações.
É que os spreads, rentabilidade frente aos fundos DI, estão historicamente altos desde a chegada da pandemia, apesar de terem caído de CDI mais 4% no ápice para CDI mais 1,5% atualmente, considerando o papel com vencimento em cinco anos, segundo o gestor de crédito privado da ARX, Pierre Jadoul.
“Acho que o momento hoje para entrar ainda é bom”, diz o especialista. “A ARX acessa as melhoras empresas e, quando a gente fala do ponto de vista de risco de crédito, vê que são companhias bem bancarizadas, com balanço forte e sem níveis grandes de alavancagem”.
Para o analista Adriano Casarotto, da gestora Western, foi o volume de emissão nos últimos meses que sustentou os spreads no nível atual.
“Os spreads estiveram piores em anos passados, em momentos de estresse absoluto”, diz Casaroto, que avalia que hoje as empresas estão melhores do que em 2014, por exemplo. “Mas a perspectiva é de que o indicador caia”.
Para o gestor da ARX, a oferta de crédito deve ceder em breve. “Talvez a gente tenha uma janela forte de emissão no início do próximo ano”, diz Jadoul.
Segundo a Anbima, o volume de captação debentures chegou R$ 224,7 bilhões no ano até novembro, correspondendo a 44% do total do mercado de capitais.
Novas emissões
O especialista da ARX vê muitos dos leilões que aconteceram na B3 nesta ano se traduzindo em novas emissões no ano que vem. “Boa parte até já se converteu em dívida”, comenta.
O gestor alerta, no entanto, para que o investidor comum busque por fundos expostos às debêntures, e não diretamente no ativo. “O investidor na ponta final está mais preocupado com a taxa final do que entender a volatilidade desse papel”, opina.
Jadoul lembra que o crédito de uma empresa pode se deteriorar com o passar do tempo, e diz que quem acompanha de perto está muito mais capacitado para avaliar o risco de se manter posicionado sobre a determinado papel.
Via fundos ou com o emissor?
O responsável pela mesa de crédito privado da Ativa Investimentos, Bruno Reis, diz que a decisão entre investir em fundos ou nos ativos depende do perfil do cliente e conta que a corretora avisa seus clientes sobre alteração no crédito das empresas.
Reis, no entanto, destaca que os fundos conseguem capturar ganhos por estar muito próximo do mercado. “Além de ter acesso a alguns ativos que o investidor de varejo não tem, pela norma CVM 476”, lembra.
A Ativa, diz ele, oferece fundos que rendem cerca de CDI mais 0,7%. “Os fundos devem performar bem, mas não tão bem quanto. Três ou quatro meses atrás começou um movimento de fechamento dos spreads de crédito de diversos ativos”.
Na corretora, houve um aumento de 49,36% nas negociações de debêntures no mercado no geral em 2021 até novembro, na base anual.
Para o analista da Ativa, as debentures incentivas são o melhor ativo do mercado para se investir diretamente, porque contam com, entre outras coisas isenção de imposto de renda.
Os ativos, também chamados de debêntures de infraestrutura, existem para aumentar a captação de recursos para setores importantes para a infraestrutura do país.