Selic em 2023 vai chegar em 15% ao ano? PEC da Transição continua cara
Acontece nesta semana a última reunião da Selic no ano. A expectativa é de que a taxa básica de juros seja mantida em 13,75% ao ano, patamar que alcançou em agosto deste ano e de lá não saiu mais.
Se a expectativa antes das eleições era de que a taxa pudesse iniciar um ciclo de queda a partir do segundo semestre de 2023, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e seus posteriores discursos mudaram tudo.
Os constantes ataques de Lula ao teto de gastos, o colocando como um empecilho para a promoção de políticas sociais, deixou os economistas e banqueiros da Faria Lima de cabelos em pé.
A estabilidade fiscal sempre foi um dos pilares para que qualquer governo possa arrecadar recursos com o pagamento de juros mais baixos.
E atacar este sistema antes mesmo de assumir o governo preocupou os investidores, como mostrei em minha última coluna.
Mas o que esperarem 2023?
Tudo vai depender de o quão radical Lula e sua equipe econômica se manterão fiéis aos seus discursos de novembro.
Mas tudo aponta, até o momento, para pelo menos a manutenção da taxa no patamar atual por um bom tempo. E realmente, um novo ciclo de alta não está descartado.
Vamos aos fatos.
A PEC da Transição, em sua proposta inicial, assustou o mercado pelos valores propostos e tempo de duração.
No meu ponto de vista, tudo fez parte da mais batida técnica de negociação. Joga-se o valor bem acima do pretendido para conseguir algo próximo do pretendido.
Assim, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou um parecer favorável à PEC com uma ampliação do teto em R$ 145 bilhões, uma redução de R$ 30 bilhões em relação ao texto inicial.
O texto aprovado também não tira o Bolsa Família do teto de gastos, algo pretendido pela equipe de Lula. Por outro lado, o montante pode chegar a R$ 168 bilhões, dependendo de como for a arrecadação federal.
O texto deve ir à votação no plenário do Senado nesta quarta, onde precisa de 3/5 dos votos para ser aprovado, equivalente a 49 senadores. Depois irá à Câmara, onde precisará de mais 308 votos de deputados.
PEC da Transição continua cara
A PEC desidratada animou levemente o mercado, que levou o Ibovespa fechar em alta de 0,72% e o dólar em queda de mesma magnitude, aos R$ 5,27.
Mas estes acontecimentos ainda são insuficientes para apostar numa Selic mais atrativa no próximo. Afinal de contas, a PEC está desidratada, mas continua cara. Estamos falando de estouro do teto e de ampliação de despesas. E isso vai pesar certamente na taxa de juros.
Os investidores estão assistindo ao aumento do chamado “Risco Brasil”. E se não houver uma boa contrapartida nos recebimentos (leia-se aumento de arrecadação), dificilmente a taxa de juros conseguirá retroceder, ou até mesmo se manter no patamar atual.
Quando lembramos ainda do cenário internacional, onde os juros americanos e europeus seguem em tendência de alta, fica difícil acreditar que os grandes investidores não irão exigir uma contrapartida para o maior risco que a economia brasileira possa oferecer.
Dessa maneira, vejo boas possibilidades de termos um período longo com nossa Selic acima dos dois dígitos, o que mantém a renda fixa como ótima forma de investimento e coloca muita pressão sobre o desempenho da bolsa nos próximos anos.
Isso porque ainda nem sabemos quem irá comandar o Ministério da Fazenda no país. Se os nomes não agradarem ao mercado, a turbulência vai continuar. E os juros tendem a subir.