Selic em 14,25% afeta crédito e custeio no agro; ‘elevação é nociva em momento de inflação dos alimentos’

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por elevar a Selic em 1 ponto percentual (p.p.) na reunião desta quarta-feira (19), em decisão unânime, saindo de 13,25% para 14,25%.
Para o professor e pesquisador especializado em agronegócio no Centro de Agronegócio Global do Insper, Leandro Gilio, o aumento implica em crédito mais caro e uma maior dificuldade para custeio, comercialização e investimentos na produção.
“Apesar do apoio do Plano Safra, é provável que os juros se elevem mesmo dentro do novo programa (2025/2026). Importante lembrar que neste ano, devido aos juros altos, o governo já teve dificuldades em manter a equalização dos juros. Esse problema deve crescer para 25/26, por um contexto de juros mais altos e problemas fiscais do governo”.
Gilio vê esse problema como especialmente nocivo em um momento de alta na inflação dos alimentos.
“Custos mais elevados podem ser repassados ao consumidor final. Também há o impacto de menor dinamismo da atividade econômica, que pode resultar em um enfraquecimento da demanda interna”.
Ainda assim, ele ressalta que o Banco Central toma uma medida necessária de política monetária, na tentativa de controlar a inflação, já que o governo, no lado fiscal, não vem conseguindo bons resultados.
Segundo Felippe Serigati, pesquisador da FGV Agro, a parte mais importante da decisão do Copom ficou por conta do comunicado.
“O BC reconhece que há muita incerteza lá fora, exigindo cautela nos movimentos. Olhando para o cenário doméstico, o documento aponta que o mercado de trabalho e a atividade econômica está indecisamente aquecida, embora tenha um sinal de moderação. Fora isso, eles estão indicando um novo aumento na próxima reunião, mas em menor intensidade”.