Selic em 11,75%? Três pontos a favor do corte de 0,50 pp (e dois contra)
Amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne pela última vez este ano para definir o futuro da Selic. Já está precificado no mercado um corte de 0,50 ponto percentual, seguindo o ritmo de afrouxamento monetário das últimas três reuniões.
Com isso, a taxa básica de juros passa de 12,25% para o patamar de 11,75% ao ano. Se confirmado, a Selic voltará para o mesmo patamar que estava em março de 2022. Nesses últimos 21 meses, a vida da Selic foi emocionante: a autoridade monetária elevou a taxa de juros em mais 2 pp, mantendo-a em 13,75% por um ano.
A dúvida agora é até quando o Banco Central deve manter esse ritmo de cortes. Na última semana, o presidente Roberto Campos Neto alertou os mais otimistas de que o jogo da política monetária ainda não está ganho e há incertezas no ambiente. E já deixou o recado: o BC pode rever o ritmo do afrouxamento monetário.
No entanto, ele destacou que ainda vê espaço para cortes de 0,50 pp, mas lembra que isso é válido “sempre duas reuniões à frente”. Resumindo: até janeiro, a Selic deve ser reduzida a 11,25%.
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Veja 3 motivos de para o Banco Central manter o ritmo de cortes da Selic
Inflação dentro da meta
O principal indicador que o Banco Central fica de olho é a inflação e esse vai muito bem: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, subiu 0,28% em novembro — uma leve aceleração em relação à alta de 0,24% apurada em outubro.
O IPCA soma alta de 4,04% nos primeiros onze meses do ano, o que extrapola a meta do Banco Central, de 3,25%, mas se mantém dentro do teto de 4,75%. Além disso, o indicador desacelerou a alta acumulada em 12 meses até novembro para +4,68%, de +4,82% no mês anterior.
“As leituras de inflação corrente continuaram a surpreender para baixo, com abertura benigna. Por exemplo, medidas de serviços subjacentes, núcleos de inflação e índices de difusão apresentam tendência de arrefecimento”, apontam os economistas da XP.
Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, destaca que mesmo que a inflação oscile dentro da banda superior à meta, o Banco Central não terá, necessariamente, de aumentar a magnitude do corte de juros para um ritmo superior ao 0,50 pp praticado nas últimas reuniões.
“Acreditamos que, nas próximas três reuniões em 2024, e a depender do comportamento das variáveis macroeconômicas, os juros devem estacionar próximo ao patamar de 10,25% ou 10% ao final deste ciclo, próximo a maio”, afirma.
Queda no petróleo
O petróleo está em um movimento de queda nas últimas semanas. Os economistas da XP destacam que esse é um outro aspecto positivo para a inflação. “Em particular, os preços do petróleo do tipo Brent, que estavam perto dos US$ 90 por barril na última reunião do Copom, declinando para cerca de US$ 75 por barril atualmente”, dizem em relatório.
Melhora no cenário internacional
O Banco Central também está de olho nos movimentos do Federal Reserve e o cenário econômico internacional. A expectativa é de uma pausa definitiva no aperto monetário norte-americano, mas ainda não está claro quando o Fed dará início aos cortes na taxa de juros.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, aponta que após o Copom ter revelado na reunião anterior uma maior preocupação com o ambiente externo mais adverso, pode-se ponderar que seria prematuro apontar que o recuo recente da curva de juros nos Estados Unidos seja suficiente para mudar a sinalização da necessidade de cautela, mesmo que reconheça uma evolução mais positiva no período recente.
“Vale notar que as treasuries continuam apresentando volatilidade e a curva futura de fed funds incorpora uma trajetória de relaxamento monetário considerada excessivamente otimista por diversos analistas. O Comitê não pode ter uma postura tão volátil quanto o comportamento do mercado. Por sinal, a apreciação do real foi bem discreta desde a última reunião do Copom (de R$ 5,00 para R$ 4,90), apesar da significativa queda das taxas de 2 e de 10 anos nos EUA”, afirma.
Veja 2 motivos de para o Banco Central reduzir o ritmo de cortes da Selic
Atividade econômica a todo vapor
O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre pegou os economistas de surpresa. A economia brasileira cresceu 0,1% frente ao segundo trimestre do ano. O resultado ficou acima da expectativa do mercado. Em relação ao mesmo período em 2022, o PIB cresceu 2,0%.
A XP lembra que esse é um ponto menos favorável para a inflação, já que os resultados foram impulsionados pelo consumo das famílias.
Por outro lado, os economistas do Santander destacam que a economia brasileira está em uma tendência mais clara de desaceleração. “Esse o arrefecimento decorre do fim da contribuição significativa da produção agrícola, juntamente com um fraco desempenho de setores sensíveis ao ciclo, especialmente aqueles relacionados com investimentos fixos, devido às políticas financeiras ainda em condições restritivas”, dizem em relatório.
Risco fiscal volta para o radar
Voltou para o radar do mercado e do Banco Central o risco de o governo estourar as contas públicas. O ministro Fernando Haddad tira resolvido essa questão quando aprovou no Congresso o arcabouço fiscal.
No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, recentemente, que não conseguirá cumprir a meta de zerar o déficit público em 2024. Desde então, o Copom e diretores do BC voltaram a apontar a questão como um risco para a política monetária.
“Se tivesse que escolher uma palavra para definir 2024, ela seria disciplina, permeando os preços à medida que o mercado entender com qual nível de seriedade o governo agirá no cumprimento da meta fiscal longo do primeiro semestre do ano”, afirma Simioni.