Selic deveria ser 26,5% (!!!) para cumprir meta de inflação em 2023, diz Campos Neto
Sob forte pressão do governo Lula para reduzir o nível do juro básico, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira (30) que, para cumprir a meta de inflação de 2023, a taxa Selic deveria ser de 26,5% ao ano. Ele afirmou, no entanto, que seria “impossível” elevar os juros neste patamar.
“Se a gente quisesse atingir a meta em 2023, a última informação que tive é que a taxa teria que ser 26,5%. É óbvio que a gente entende que isso é impossível”, declarou em coletiva de imprensa sobre o relatório trimestral de inflação.
Campos Neto reforçou que as decisões do Banco Central são técnicas, sendo norteadas, basicamente, pela inflação corrente, hiato do produto e expectativa de inflação à frente.
Ele também comentou sobre as críticas recebidas após a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom). “De repente, a gente começa a ver uma politização do que é uma linguagem muito técnica”, disse.
Veja a coletiva do BC:
Boa relação com o Ministério da Fazenda
Segundo Campos Neto, o BC tem hoje um bom relacionamento com o Ministério da Fazenda. Ele afirmou ainda que tem “convicção” de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), está “bem-intencionado”.
As declarações de Campos Neto surgem na esteira de atritos entre o governo e o Banco Central. O presidente do BC vem sendo criticado por membros do governo e pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por manter a Selic em 13,75% ao ano.
Durante a coletiva, Campos Neto disse que o BC está fazendo um trabalho técnico na condução da política monetária. Segundo ele, é preciso comunicar à sociedade que o trabalho do BC com os juros tem um custo de curto prazo.
“Nosso processo aqui não tem nenhum componente político. É estritamente técnico”, afirmou Campos Neto, ressaltando que o custo para combater a inflação é alto e é sentido no curto prazo. “Nosso trabalho é explicar por que existe autonomia e por que isso é importante para a sociedade.”
Ao mesmo tempo, defendeu que a autonomia do BC é importante justamente para a tomada de decisões sobre a Selic e o combate à inflação, sem que se incorra em custo maior no longo prazo.
Com informações de Reuters