Economia

Selic nas alturas: Para Jakurski, da JGP, BC terá subir juros em mais de 1,5 pp se quiser conter inflação

31 ago 2024, 18:29 - atualizado em 10 set 2024, 12:06
Selic
André Jakurski, Rodrigo Azevedo e Luis Stuhlberger participaram do painel Gigantes do mercado Brasil na XP Expert

O Banco Central terá que subir os juros em mais de 1,5 ponto percentual se realmente quiser controlar a inflação, afirma André Jakurski, da JGP, na XP Expert, evento que ocorre neste sábado em São Paulo. Segundo o gestor, os juros no Brasil estão mal precificados.

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“A meta de inflação de 3% é muito agressiva. Mas na prática, o BC está mirando 4%. Nada me diz que não pode ser 5%. [Uma alta de] 1,5% não vai fazer diferença para a economia”, discorre.

Luis Stuhlberger, que também participou do painel, acredita que a alta da Selic parece inevitável. Ainda segundo o gestor, a expectativa de inflação para o ano que vem será maior do que projetada.

“Ela já esteve em 5,3% para o ano que vem. É sempre normal que tenha um prêmio. Não quer dizer que o mercado esteja certo. Ainda assim, o Focus está prevendo 4%. A inflação está mais perto de 4,5% do que de 4%”, destaca.

Para Stuhlberger, parte dessa piora se deve à política expansionista do governo, “esse modelo do PT de turbinar a economia em todos os cilindros possíveis”.

Por outro lado, o gestor elogiou a indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central. “É mais uma surpresa positiva do que negativa. Embora com algumas declarações antagônicas, esse comprometimento de alcançar a meta é positivo”, discorre.

Economia está pedindo aumento de juros

Rodrigo Azevedo, da Ibiuna, diz que a economia está “pedindo alta dos juros”, considerando os indicadores, como desemprego e crescimento.

“Está crescendo acima do potencial, o desemprego está baixo, a inflação está quase 1% acima da meta. Posição fiscal expansionista. Os modelos sugerem que a inflação está um pouco ou muito acima da meta”, afirma.

Ainda segundo o gestor, o BC precisa ser proativo nesse momento. Azevedo projeta alta de 1,5 ponto percentual da Selic.

“Nesse momento, o BC precisa ser proativo. 1,5 ponto percentual seria suficiente para atravessar esse período.”

Lula vive seu melhor momento

Azevedo também pontua que, no curto prazo, o governo Lula está vivendo o seu melhor momento. Para sustentar a tese, lembra que, nos últimos meses, o governo fez um déficit nominal de 10% do PIB.

“Isso compra a felicidade, todo mundo teve o seu quinhão. Nos últimos 12 meses, houve um estímulo monetário e fiscal. E o resultado disso é que a economia está crescendo com o desemprego baixo”, coloca.

Porém, a bonança poderá acabar, já que, nos próximos meses, não será possível repetir isso, na sua visão. “A política terá que ser contracionista. Nos próximos meses, a vida em Brasília vai se tornar mais difícil. E isso vai se refletir nos preços. Estar comprado em dólar nesse momento continua sendo uma boa alternativa”, destaca.

Contas explosivas

Stuhlberger voltou a mostrar seu pessimismo com o Brasil, especialmente com as contas públicas do governo. Para ele, se do lado do Banco Central há uma surpresa positiva, do lado fiscal há surpresas negativas crescentes e perigosas.

“O Fernando Haddad tem sido bem-sucedido em empurrar os problemas para frente. Mas se você olhar para a tendência dos gastos, está explosiva e o mercado pode perceber isso”, diz.

Ele recorda que as despesas com previdência e assistência subiram de R$ 1 trilhão para R$ 1,6 trilhão, 5% acima da inflação.

“Acho que não explode agora. Mas o Congresso não tem sido um para-choque adequado e o Executivo apareceu com um vale-gás fora do arcabouço“, coloca, em referência à proposta do governo de elevar o benefício.

“Temos pequena posição comprada em dólar, tomada pré-longa.”

O gestor disse ainda que aproveitou a recente alta da bolsa para vender ações. O Ibovespa disparou nas últimas semanas em meio à entrada massiva de estrangeiros, que aproveitam os múltiplos baixos do índice e a possível alta dos juros nos Estados Unidos.

Eleições americanas

Segundo os gestores, as eleições americanas estão bastante incertas, principalmente após a substituição de Joe Biden por Kamala Harris.

Na visão de Azevedo, o mercado tem preferência pelos republicanos devido às suas políticas menos intervencionistas e de corte de impostos.

“A resposta dos republicanos seria melhor. Os democratas aumentam impostos para gastar. Isso teria efeito no crescimento, que seria menor”, diz.

No cenário de Trump eleito, porém, haveria uma política mais inflacionária. “Teria menos capacidade de diminuir os juros”, diz.

“Essa eleição será muito apertada e o mercado vai ficar flutuando de um lado para o outro. É preciso navegar com muito cuidado”, completa.

Apesar disso, Azevedo aposta na vitória de Trump, assim como Stuhlberger.

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