Selic (ainda) a 13,75%: Mercado que saber quando Banco Central vai mudar estratégia
Em sua primeira reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, surpreendendo um total de zero pessoas do mercado.
A decisão de hoje corresponde ao consenso do mercado, que vê a taxa básica de juros estacionada neste patamar desde agosto do ano passado.
Mas o que o mercado quer saber mesmo é quando o Banco Central vai começar a reduzir a Selic. Em seu comunicado, o Copom destacou que perseverá até se consolidar a desinflação e a ancoragem das expectativas, o que vem se deteriorando em prazos mais longos.
“O Copom manteve a taxa Selic a 13,75% ao ano pela quarta vez seguida, porém, como esperado pelo mercado, o anúncio trouxe o tom duro da autoridade ao abordar o descolamento das expectativas e reforçando o compromisso com o regime de metas de inflação”, afirma Marcio Kogut, fundador da fintech Mycon.
O Banco Central também não descarta retomar ajuste caso desinflação não transcorra como esperado.
Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos, aponta que um reajuste para baixo está cada vez mais distante das projeções.
“Acreditamos que uma redução poderá ocorrer somente no segundo semestre, mas tudo vai depender o balanço de riscos, que inclui a questão fiscal, fatores políticos e o cenário internacional”, afirma.
Selic: Comunicado hawkish
Sobre o comunicado do Copom, os analistas avaliam que ele veio com um tom mais hawkish e duro do que o esperado.
Idean Alves, educador financeiro, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, destaca que o Banco Central está com uma postura mais vigilante e ativa na tomada de decisão sobre os juros.
“Ele voltou a assumir o leme de forma mais rígida para que, além do controle da inflação, possa fazer um ‘pouso suave’, sem desacelerar tanto a atividade econômica a ponto de gerar uma recessão econômica local”, afirma.
O principal ponto de atenção são as incertas no âmbito fiscal, que eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
“A aprovação da PEC da Transição e declarações de membros do governo sobre a utilização de bancos públicos para induzir o crescimento econômico elevaram o risco para a economia brasileira”, diz Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero.
Bruna Centeno, economista e especialista em renda fixa da Blue3 Investimentos, aponta que o foco agora será no tom da ata da autoridade monetária, principalmente porque o Boletim Focus desta semana mostra uma desancoragem fiscal muito grande para 2023 e 2024.
“Será importante entender se, de fato, é possível ter alguma perspectiva de corte nas taxas de juros nas próximas reuniões ou se a manutenção do aperto monetário ocorrerá por um tempo maior justamente para calibrar a inflação”, diz.