Entrevista

Selic a 15%: ‘Não vejo espaço para cortes de juros este ano’, diz economista da Julius Baer

09 jan 2025, 7:00 - atualizado em 09 jan 2025, 13:35
Juros-Economia selic morning times ibovespa wall street
(Imagem: iStock/Dilok Klaisataporn)

Em um cenário de pressões inflacionárias persistentes, desaceleração econômica moderada e incertezas fiscais, o economista sênior da Julius Baer, Gabriel Fongaro, não vê espaço para cortes na Selic em 2025, a menos que haja uma recessão na economia brasileira ou uma guinada na condução da política fiscal.

“Tecnicamente, não vejo espaço para cortes de juros este ano”, disse Fongaro em entrevista ao Money Times.

Segundo o economista, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve optar por altas maiores na taxa básica de juros nas primeiras reuniões do ano — como já adiantado pelos diretores. Depois, a Julius Baer vê mais um aumento de 0,75 ponto percentual em maio, levando a taxa para 15% — patamar que deve ser mantido até o final do ano.

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A decisão de interromper o ciclo, prevista para junho, deve ser baseada em sinais de desaceleração econômica. Fongaro alertou, no entanto, acredita que a Selic deveria ser superior a 15% para que houvesse um controle da inflação ao redor da meta de 3%.

O economista destacou que o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e o colegiado terão pela frente grandes desafios, como ancorar as expectativas de inflação e lidar com a tensão entre política fiscal e monetária.

“Há uma desconfiança do mercado em relação à disposição do BC em fazer o que é necessário para trazer a inflação para a meta. O Banco Central vai precisar ser técnico para convencer o mercado”, afirmou.

Veja os destaques da entrevista com o economista sênior da Julius Baer

Money Times: Até onde vai o ciclo de alta da Selic na visão da Julius Baer?

Gabriel Fongaro: Acreditamos que as duas altas de 1 ponto percentual previstas para as primeiras reuniões já estão dadas. Isso deve levar a Selic para 14,25% em março. Esperamos um aumento final de 0,75 ponto percentual em maio, elevando a taxa para 15%.

Acreditamos que a Selic deveria subir um pouco além de 15%, mas esse Banco Central tende a dar mais peso para outras questões que não a meta de inflação — como, por exemplo, a meta secundária de estabilizar a economia e buscar o pleno emprego.

Na nossa expectativa, junho será a primeira reunião que o BC não deve fazer nada. O principal argumento para parar um pouquinho antes do necessário será uma desaceleração da economia no segundo semestre deste ano. Ali, já vai estar mais clara essa desaceleração.

E é por isso que achamos que a meta de inflação não será cumprida nem em 2025, nem em 2026. Também tem toda a parte da política fiscal que é super importante.

MT: Quais serão os principais desafios do Banco Central em 2025? 

Fongaro: O primeiro grande desafio será ancorar as expectativas de inflação. Hoje, as projeções para o horizonte relevante estão em 4,2%, acima da meta de 3%. Isso mostra uma desconfiança do mercado em relação à disposição do BC em fazer o que é necessário para trazer a inflação para a meta. O Banco Central vai precisar ser técnico para convencer o mercado.

Outro ponto de tensão diz respeito às intervenções do BC no mercado de câmbio. Em dezembro, houve uma saída atípica de dólares e o Banco Central vendeu mais de US$ 20 bilhões em reservas internacionais. Isso normalmente ocorre em dezembro, mas a partir de agora não existe mais esse argumento. Se continuar vendendo reserva em um ambiente de fluxo mais estável, pode gerar um alvoroço negativo no mercado.

E, por fim, algo que afeta muito o trabalho do BC é o grau de distanciamento da política fiscal, que interfere no alcance ou não da meta de inflação de 3%. Temos uma dúvida grande com relação à política fiscal, os sinais recentes são de que o governo não está disposto a cortar gastos e podemos ter novos episódios de deterioração fiscal.

MT: O câmbio também deve preocupar o BC?

Fongaro: A depreciação recente do câmbio adiciona uma boa dose de inflação para 2025 e, inclusive, é a principal responsável pelas revisões altistas no IPCA deste ano. Temos a perspectiva de que essa depreciação veio para ficar, porque não vemos uma correção de rumo na política fiscal.

Além disso, um choque cambial em uma economia que já está sobreaquecida, com o hiato do produto positivo, tende a pressionar a inflação. As expectativas desencoradas também amplificam o pass-through.

Mas, como o horizonte do Banco Central é móvel, esse efeito do câmbio tende a desaparecer no horizonte relevante na ausência da continuação da depreciação cambial. No primeiro momento, o BC vai desconsiderar parcialmente o efeito primário da depreciação cambial sobre a inflação, como o aumento direto nos preços de bens, e focar mais nos efeitos secundários, como o impacto nos preços de restaurantes.

MT: Em relação ao cenário externo, como as políticas de Donald Trump e o rumo dos juros do Fed podem impactar o Brasil?

Fongaro: As questões domésticas tendem a predominar, mas o cenário externo não ajuda. Nos EUA, a inflação está acima da meta e as políticas de Donald Trump, como a política anti-imigração, podem ter um efeito inflacionário importante nos Estados Unidos. E juros mais altos por lá significam juros mais altos no resto do mundo todo.

MT: Há espaço para cortes de juros este ano?

Fongaro: Tecnicamente, não vejo espaço para cortes na Selic este ano. O que pode abrir espaço para cortes de juros no Brasil este ano é uma recessão, vinda da desaceleração mais forte do PIB. Se o juro real forte provocar uma virada no mercado de crédito muito grande, os bancos secarem as linhas de empréstimos e as empresas começarem a demitir, o país pode enfrentar uma recessão. Seria um corte de juros pelo motivo ruim. Mas esse não é nosso cenário base.

O corte de juros pelo motivo bom viria de um ajuste fiscal, de uma guinada na direção da política fiscal em prol de um controle maior de despesas. Mas eu acredito que esse cenário é menos provável do que uma recessão.

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Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.
giovana.leal@moneytimes.com.br
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Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.
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