Selic a 14% ao ano e choque de realidade de Campos Neto são bons para a renda fixa
Costumo dizer que o mercado financeiro é viciado em buscar boas notícias. Uma taxa Selic a 14% ao ano já faz preço no Ibovespa (IBOV) e na própria renda fixa.
Em meio a cenários turbulentos, muitas vezes vemos alguns sopros de boa esperança serem o suficiente para marcar os famosos “fundos de mercado”, faixas de preço onde os índices das principais bolsas do mundo revertem grandes movimentos de queda e voltam a subir.
Recentemente vimos isso acontecer no Ibovespa.
O mercado tem acompanhado com entusiasmo as constantes revisões para cima da projeção do PIB brasileiro em 2022, além da diminuição do ritmo da inflação.
A melhora dos números da economia ajudou a bolsa a engatar um forte rali de alta que começou em julho e se encerrou no final de agosto.
O movimento acabou indo em linha com a recuperação dos principais índices acionários dos EUA.
Estes também esboçaram uma grande melhora com investidores acreditando (ou torcendo) que o país do Tio Sam consiga sair de sua pior inflação desde a década de 80 sem uma grande desaceleração econômica (o chamado “soft landing”).
Que o Brasil também vem tentando sair de um processo inflacionário muito pesado não é segredo para ninguém.
Disparada da Selic
As constantes altas na taxa de juros, que saiu de sua mínima histórica de 2% para quase 14% ao ano, é um sinal claro dessa luta do Banco Central.
E enquanto muitos investidores, agora também de olho no cenário eleitoral, continuam aguardando mais notícias positivas para resolver se voltam com afinco à compra de ações, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, parece ter resolvido dar um choque de realidade em muita gente que parecia ter esquecido o momento atual da economia.
Atitude similar a de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (o BC americano), que deixou o mercado um pouco mais cabisbaixo com sua fala no simpósio de Jackson Hole, nos Estados Unidos.
Em discurso feito no evento Prêmio Valor 1000, em São Paulo, ele voltou a chamar a atenção da insistência da inflação e sobre a possibilidade de um último aumento na taxa de juros na reunião do Copom em setembro.
Ele deixou claro que o processo inflacionário ainda inspira cuidados e que o BC ainda não descartou um aumento residual da Selic.
13,75% ou 14%?
Isso acabou sendo um recado claro às expectativas dos entrevistados do Boletim Focus, que já “cravou” a algumas semanas a Selic em 13,75% até o final de 2022.
Apesar de não fugir de nada do que havia sido revelado na última ata da reunião de Copom, a mensagem soou como um alerta para quem só estava vendo o copo meio cheio para o atual momento econômico.
Campos Neto deixou claro que a inflação começou a dar sinais de melhora após atingir o seu pico em 12 meses.
Mas também ressaltou que grande parte da melhora tem a ver com a desoneração tributária do governo no curto prazo, e que o cenário fica um pouco mais incerto para o próximo ano.
Basta lembrar que além do possível fim dos estímulos fiscais sobre combustível e energia, por exemplo, existe também a incerteza sobre a continuidade do programa Auxílio Brasil, que vem dando uma “turbinada” no PIB para este ano.
Isso foi o suficiente para colocar uma boa dose de mau humor e ajudar a bolsa a cair mais de 2% na última terça-feira.
O que vem no curto prazo?
No curto prazo, inclusive, o Ibovespa já dá sinais de retomada de uma tendência de queda, que pode ser acentuada (ou revertida, claro) com o jogo eleitoral a pleno vapor e com os próximos dados econômicos que vierem a sair.
Por isso tenho insistido tanto que a renda variável, no momento, deve ficar como opção para quem tem mais experiência no mercado e um perfil arrojado.
Enquanto os juros permanecerem nesse patamar mais elevado, algo que pode se estender por um período longo, a renda fixa vai continuar sendo uma ótima escolha.
No fim, tudo é uma questão de propensão ao risco e ponto de vista.
Bons investimentos!
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