Selic a 13,75%: Hora de abandonar MGLU3? Quais ações comprar? Quais vender? Veja respostas
O Ibovespa despencou nesta quinta-feira (23) um dia após o Copom manter a Selic a 13,75%. Mas o que assustou o mercado, de fato, foi o comunicado do Banco Central com a sinalização de que o banco manterá a taxa de juros estacionada por mais tempo. A instituição também não descartou novas altas.
A expectativa era de que os juros poderiam cair em maio ou junho, motivo pelo qual, inclusive, alguns papéis, como varejistas, subiram bem no final do ano passado.
Ou seja, basicamente o mercado precifica, agora, um cenário com maior aperto monetário. Diante desse novo quadro, como navegar pela bolsa? Quais ações vender? Quais comprar? O Money Times conversou com analistas para entender as dimensões do novo cenário.
Por que as ações caíram?
Para os analistas, a queda de hoje não só foi provocado pelo ambiente interno, mas também pelo externo. Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos e especialista em renda variável, lembra que um dos principais efeitos da alta dos juros do Federal Reserve para as ações brasileiras é que os ativos no país ficam menos atraentes para os investidores estrangeiros.
Ontem, o Fed elevou os juros nos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 4,5% e 5%. “Quanto mais o Fed aumenta os juros lá, os investidores estrangeiros saem aqui. Com isso, pressiona a bolsa e o dólar. Todas as ações sofrem, mas principalmente as blue chips”, coloca.
Os investidores estrangeiros interromperam uma sequência de três dias seguidos de vendas de ações na B3. Porém, o ingresso de recursos externos não fez nem cócegas nos saques de quase R$ 2 bilhões registrados nos últimos dias.
No dado referente à última segunda-feira (dia 20), houve entrada de apenas R$ 119,44 milhões no mercado secundário (ações já listadas) da bolsa brasileira. O montante é insuficiente para neutralizar as saídas de R$ 1,814 bilhão vista entre os dias 15 e 17 de março.
“A trajetória dos juros nos EUA tem importância, principalmente, para as empresas de crescimento, que precisam de um ambiente que favoreça os investimentos de risco em países emergentes, como as companhias de tecnologia, mas diante à incerteza sobre a trajetória de juros no Brasil e exterior, essas não apresentam um desempenho acima do mercado”, esclarece Luis Novaes, analista da Terra Investimentos.
Quais ações evitar?
De acordo com os analistas, neste momento, é bom evitar ações ligadas à construção civil, varejo, educação e consumo. Essas companhias dependem de crescimento econômico, algo que se torna mais difícil em um ambiente de alta dos juros.
No setor de construção, por exemplo, Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais, lembra que a inflação grande prejudica os insumos para a construção dos empreendimentos, enquanto a alta dos juros diminuí a condição para o financiamento.
“E com isso você acaba tendo uma crise no setor imobiliário porque você tem baixa demanda”, discorre. As ações das principais construtoras listadas na Bolsa brasileira despencaram no pregão desta quinta-feira (23).
Novaes, da Terra, acrescenta ainda que as empresas que são mais penalizadas pela taxa de juros se desvalorizam na bolsa pelo impacto que isso pode ocasionar sobre os resultados dessas, enquanto as empresas com suas receitas expostas à taxa de juros se valorizam.
As ações, segundo o analista, que têm seus resultados negativamente impactos pelo cenário de alta nos juros, são:
- as que necessitam de crédito para manter suas operações;
- ofertam serviços ou bens não essenciais, tendo em vista que a renda da população seguirá restringida
- estão expostas ao risco de inadimplência da população.
“Nesse contexto, podemos elencar as redes varejistas, construtoras, seguradoras de saúde, companhias aéreas, turismo, educação e outras, como as empresas penalizadas pelo cenário de alta de juros”, completa.
Quais ganham?
Do outro lado da balança, empresas que ofertam bens ou serviços essenciais para a população, expostas à população de alta renda ou indústria internacional, que não sofrem tanto o impacto dos juros locais, podem ser dar bem com o cenário.
“Seguradoras, companhias do setor elétrico, saneamento básico, indústria com exposição internacional entram nessa lista”, elenca o analista da Terra.
Fábio Sobreira, sócio e analista da Harami Research, lista ainda os bancos, que conseguem trabalhar bem em qualquer situação. “Se a taxa de juros aumenta, eles emprestam com mais juros. O banco sempre ganhou muito dinheiro com taxas de juros baixa e alta”, argumenta.
Naio Ino, gestor de renda variável da Western Asset, prefere nomes mais defensivos, como, por exemplo, Raia Drogasil (RADL3) e WEG (WEGE3). “Tenderiam a sofrer menos, num cenário de um mercado mais pesado para ativos de risco”, completa.
E o Magalu?
Dentro desse universo, o Magazine Luiza (MGLU3) é um bom exemplo de ação que disparou por volta de junho do ano passado, quando bateu em sua mínima. O motivo? Perspectivas de queda dos juros em 2023. A ação disparou mais de 60%. Neste ano, o papel voltou a subir com força com a derrocada da Americanas (AMER3).
Porém, na sessão desta quinta, o papel liderou as perdas, com queda de 13%. Analistas continuam vendo um cenário desafiador para a companhia.
“Esses fatores macros estão batendo bastante no papel. Pelo lado do consumidor, os juros comprometem a renda das famílias e deixa a empresa mais alavancada. Isso pesa bastante. Em juros em 13,75%, a alavancagem machuca bastante”, argumenta Bruno Komora, da Ouro Preto Investimentos.
Ele diz ainda que um ponto a favor seria a Americanas, fazendo com que o Magazine Luiza ganhe market share e pegue um pedaço desse vácuo deixado pela varejista.
“Porém, isso tem duração curta, se limitando ao primeiro e segundo trimestre. Depois disso, o ambiente competitivo vai voltar. A competitividade irá aumentar, principalmente por conta das empresas asiáticas”, prevê.
Por fim, o analista afirma que Magalu não é boa tese para estar posicionado.
“Eu acredito muito mais no Mercado Livre. Ele será um vencedor nesse mercado de e-commerce. Eu venderia Magalu. Entendo que muitas pessoas físicas já sofreram com papel, acumulam prejuízos significativos, e por isso podem até relutar de vender”, discorre.