Selic a 13,25%: Travessão é ‘super alto’ para subir juros além do patamar já indicado, diz economista do Santander
O travessão para o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a alta já indicada para a Selic é “super alto”, diz o economista do Santander, Marco Caruso. A autarquia disse no final do ano passado que pode aumentar os juros em 1 ponto percentual (p.p.) em cada uma das duas primeiras reuniões de 2025.
“O fato de ter dado um guidance para duas reuniões faz o travessão [para subir ainda mais a Selic] ser super alto, porque você não só está dizendo que vai elevar nessa, como já tem ousadia o suficiente para sugerir que vai entregar o mesmo em março”, disse em entrevista ao Money Times.
Caso a projeção para a reunião desta quarta-feira (29) se confirme, a taxa básica de juros brasileira sobe do patamar de 12,25% para 13,25% ao ano.
Entre os principais desafios que devem sustentar a decisão do Copom, Caruso destaca a deterioração das expectativas de inflação. “Desde a última reunião, vimos a inflação projetada para o horizonte relevante — o terceiro trimestre de 2026 — subir de 4% para 4,5%”, afirmou.
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Além disso, o economista coloca na conta o preço do petróleo, que subiu significantemente desde a última reunião do Copom. Em compensação, o câmbio manteve-se próximo ao patamar usado anteriormente, em torno de R$ 6,00 por dólar.
Embora confiante em relação aos passos da autarquia nas reuniões de janeiro e março, Caruso aponta incertezas para o futuro próximo. “A grande dificuldade é maio. Tudo sugere que as condicionantes estão muito mais difíceis para a convergência da inflação, mas eu acredito que eles optarão por abrir graus de liberdade para aquela decisão”, avaliou.
Três pontos explicam esse possível posicionamento da autarquia:
- em maio, o horizonte relevante será no final de 2026 e o impacto do câmbio tende a se dissipar gradualmente nas projeções de inflação;
- a economia deve desacelerar acentuadamente a partir do segundo trimestre do ano;
- as recentes declarações do diretor Diogo Guillen enfatizaram que os níveis atuais da política monetária são contracionistas, o que pode indicar uma política suficientemente rígida.
O economista pondera que a comunicação do Banco Central (BC) será essencial para evitar leituras equivocadas por parte do mercado.
“Talvez o BC tenha que colocar alguma sinalização que seja forte o suficiente para não deixar dúvida de que o comunicado foi hawkish. Se o Copom deixar de sinalizar aumentos, pode fazer com que o mercado interprete que a chance de uma alta de 1 ponto diminuiu demais”, disse. “A arte vai estar em não fazer o mercado se desviar demais de uma precificação”.
O peso do fiscal na decisão do Copom
Caruso também destaca o peso da política fiscal nas decisões do Copom. Embora o Brasil não esteja em um cenário de dominância fiscal, o descontrole nas contas públicas dificulta a eficácia da política monetária, afirmou.
“Hoje, o fiscal tem prevalecido sobre o monetário na definição das expectativas de inflação. Isso quer dizer é que é o canal entupido da previsão monetária”, disse.
Para ele, o ajuste fiscal é imprescindível para melhorar a eficácia da política monetária. No entanto, as projeções do Santander não apontam superávits fiscais nem em 2025, nem em 2026, o que mantém o cenário de incerteza elevado.
“O peso do fiscal nas decisões monetárias já é alto e seguirá alto até nós vislumbrarmos superávits primários”, afirmou.
Projeções para a Selic
Para o Santander, a Selic atinge seu pico em junho, a 15,50%, e fecha o ano de 2025 a 14,50%, com cortes nas duas últimas reuniões do ano.
Caruso, na contramão do mercado, projeta que o ciclo de afrouxamento monetário se inicie este ano, uma vez que espera que a sensibilidade dos juros à desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) aumente.
“Esperamos um crescimento de 1% no primeiro trimestre, impulsionado pelo agronegócio, mas os trimestres seguintes devem mostrar desaceleração, com alta de 0,2% no segundo trimestre e 0,1% nos dois últimos”.
O economista ressalta, no entanto, que essa projeção está sujeita a mudanças, dependendo do comportamento das expectativas de inflação e da atividade econômica.