Selic a 12,25%: É hora de mudar a estratégia nos títulos do Tesouro?
Na última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) deixou o mercado reflexivo. Apesar da elevação de 1 ponto percentual já ser esperada na Selic, o que surpreendeu os agentes foi o comunicado Banco Central. Segundo a instituição, as próximas duas reuniões também podem contar com altas semelhantes.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, diz o comunicado do Copom.
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A decisão e a postura mais “agressiva” do BC trazem uma maior segurança para o mercado, diz o estrategista de renda fixa do Itaú BBA, Lucas Queiroz. Ele explica que, caso o BC deixasse em aberto o que poderia ser feito lá na frente, a discussão sobre a questão fiscal continuaria tomando conta dos mercados, mas que essa comunicação traz certo protagonismo para a autarquia.
“O que se discute nas mesas e no mercado financeiro brasileiro em geral é a disposição do BC cumprir com a sua meta. Isso é bom porque muda um pouco o foco da discussão do mercado e por outro é bom também porque nesse período vamos ter a transição para o Gabriel Galípolo, que já entra com uma certa credibilidade”, explica.
Agora com a Selic a 12,25% e uma perspectiva de que até março do ano que vem ela pode chegar a 14,25%, os analistas de renda fixa avaliam as melhores indicações para o portfólio de títulos públicos.
Como aproveitar a Selic a 14,25% nos títulos públicos?
Queiroz destaca entre as suas escolhas o Tesouro Selic, que é um título pós-fixado atrelado à taxa básica de juros, já que este terá uma rentabilidade entre 14% e 14,5% no próximo ano.
“Isso é muito atrativo. Tanto do ponto de vista nominal, o investidor vê esse valor cheio, quanto do ponto de vista da rentabilidade real. O mercado como um todo está discutindo uma inflação, se ela vai ser de 4,80%, se vai ser de 5% ou se vai ser de 6% para o ano que vem. Independente desses valores, para uma taxa de juros que fica no mínimo em 14%, me parece que é uma rentabilidade real muito elevada”, pontua.
João Ferreira, sócio da One Investimentos, que também ressalta sua preferência no curto prazo pelo pós-fixado, comenta ainda a atratividade de um título público com rendimentos superiores a 1% ao mês. Isso representa um risco “muito baixo” para um retorno “muito atrativo”.
Os títulos atrelados ao IPCA e prefixados também estão no radar dos especialistas. Na visão deles, para quem deseja diversificar a carteira e possui uma maior tolerância às oscilações, ambos os tipos de investimento possuem boas taxas no momento.
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De acordo com Queiroz, no entanto, o prêmio adicional oferecido por títulos de longo prazo, como o Tesouro IPCA+, pode ser atrativo, mas é fundamental compreender os riscos associados aos durations. Títulos com vencimentos mais longos são mais sensíveis às oscilações da taxa de juros, o que pode gerar desvalorizações temporárias na marcação a mercado.
Ferreira reforça essa visão e destaca que o momento é oportuno para montar posições táticas nesses títulos, aproveitando as taxas mais altas atualmente negociadas. Ele acredita que, no médio prazo, há expectativa de que a curva de juros se ajuste, possibilitando ganhos adicionais para quem comprar agora em momentos mais estressados.
“Os investidores que adquiriram NTNBs (Tesouro) com IPCA+6% no início do ano podem estar enfrentando desvalorizações de cerca de 20% na marcação a mercado, mas, a longo prazo, a estratégia tende a ser recompensadora”, explica o executivo.
Os especialistas enfatizam ainda que a alocação, mesmo que na renda fixa, deve ser feita com cautela. Queiroz aconselha priorizar títulos pós-fixados para evitar grandes oscilações, enquanto Ferreira sugere que a exposição a ativos mais arriscados seja moderada e proporcional ao perfil do investidor.
De acordo com as análises, o cenário de juros altos deve se manter até o final de 2025, reforçando a importância de estratégias defensivas e bem estruturadas para atravessar este período de instabilidade econômica. O estrategista do BBA, porém, se diz otimista com os investimentos nessa classe de ativos.