Selic a 12,25%: Choque de juros é de extrema importância, mas não tira protagonismo da condução fiscal, diz economista da Galapagos
Segundo a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, a alta de 1 ponto percentual (p.p.) na Selic e a indicação de mais duas elevações similares nas próximas reuniões foram de extrema importância para a ancoragem dos preços dos ativos. Na quarta-feira (11), o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa de juros a 12,25% ao ano.
Em entrevista ao Money Times, Pinheiro disse que o Banco Central (BC) saiu de uma “situação atrasada” e já anunciou grande parte do ajuste de juros necessários para fazer com que a inflação volte a convergir para a meta. “Acabou tendo um efeito de 300 pontos”, afirmou.
“A nossa tentativa de réplica do modelo do Banco Central sugere que seria necessário levar a Selic para 14,50%. Foi bastante positivo eles já se comprometerem que, muito provavelmente, a Selic ficará em 14,25% em março. Isso já é grande parte do movimento”, disse.
Como reflexo, nesta quinta-feira (12) o mercado observa uma apreciação da taxa de câmbio e uma curva de juros mais ancorada, segundo a economista. Após o anúncio, a Galapagos espera que o dólar feche 2025 em R$ 5,70 e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 4,2%.
Além do ajuste nos preços, a decisão do Copom e o guidance corroboram para a construção da credibilidade da próxima diretoria do BC, liderada por Gabriel Galípolo.
“Foi uma decisão unânime – todos votaram tanto pela decisão como pela indicação para as próximas duas decisões. Ajuda na construção da credibilidade, não só do Galípolo, mas desse colegiado novo que vai estar ali a partir de janeiro”, afirmou.
Apesar de louvar o choque de juros, Pinheiro reforçou que a condução da política fiscal segue em destaque. “Não é porque a política monetária conseguiu fazer um movimento de antecipação – que no jargão econômico é o front-loading –, que a política fiscal deixou de ser protagonista”.
Fiscal segue como protagonista
Segundo a economista-chefe da Galapagos, a política fiscal segue sendo protagonista. “Já foi um primeiro passo no caminho de construção de credibilidade e, agora, precisamos ver a construção de credibilidade do lado fiscal. A hipótese que adoto no meu cenário base é de que o governo vai continuar nesse caminho”, disse.
Pinheiro pontua que o pacote de medidas de contenção de gastos, anunciado pelo governo no final do mês passado, precisa ser aprovado com o mínimo de diluição possível para ajudar a ancorar os preços dos ativos. “Vale aprimoramento, mas não vale diluição”, disse.
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Além disso, para que a contribuição da política fiscal seja efetiva, é necessário que o Congresso aprove a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o orçamento de 2025, de preferência ainda este ano.
A economista cita ainda que a equipe econômica deve continuar sinalizando medidas adicionais do lado fiscal. “Só o pacote anunciado não sinaliza estabilidade da relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB)”, afirmou.
A aprovação do pacote fiscal já anunciado e eventuais medidas adicionais para melhora do resultado primário ajudam a criar um espaço para algum corte de juros no quarto trimestre de 2025.
“A pressão inflacionária de um câmbio a R$ 6 é muito relevante e a economia está muito mais forte do que pode crescer sem gerar inflação. Então, vamos ter que conviver com taxa de juros elevada em grande parte de 2025”, disse.
Até onde vai o ciclo de altas da Selic?
Para a Galapagos, o aperto monetário deve atingir seu pico no patamar de 14,50%. “Considerando que a gente consiga ancorar os preços dos ativos, principalmente a taxa de câmbio e as expectativas de inflação, o pico seria 14,50%, com possibilidade de início do corte de juros no final do ano”, afirmou Pinheiro.
A economista pontua, no entanto, que se o câmbio voltar a subir para R$ 6,10 ou R$ 6,20, por exemplo, o reajuste monetário deve ser maior. “Se o câmbio sobe, o pico tem que ser maior”.
Além de indicar mais duas altas de 1 p.p. na Selic nas primeiras reuniões de 2025, o Copom afirmou, no comunicado, que a magnitude total do ciclo de aperto monetário está em aberto.
O ciclo, segundo os diretores, será ditada pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.