Money Times Entrevista

Selic a 12,25%: ‘Banco Central tenta evitar que o mercado pire’, diz economista-chefe da Bloomberg

12 dez 2024, 17:39 - atualizado em 12 dez 2024, 18:45
Na leitura da economista-chefe da Bloomberg, Adriana Dupita, o BC quer evitar que o mercado "comece a pirar e comece a precificar aumentos de juros ainda maiores nos meses à frente" (Imagem: Divulgaçao)

A alta da Selic, a taxa básica de juros, de 1 ponto percentual já era esperada por parte do mercado, mas não evitou que o mercado penalizasse os ativos brasileiros. Nesta quinta-feira (12), o Ibovespa despencava 2%, enquanto o dólar renovava máximas, o que pegou alguns economistas de surpresa.

Além da alta dos juros, o Banco Central contratou mais duas altas de 1 ponto percentual, fazendo com que a alta dos juros termine em 14,25%, algo não visto nem durante a pandemia, quando o mundo vivia uma bolha inflacionária.

Na leitura da economista-chefe da Bloomberg, Adriana Dupita, o BC quer evitar que o mercado “comece a pirar e comece a precificar aumentos de juros ainda maiores nos meses à frente”.

“Acho que eles [o Banco Central] queriam ancorar a expectativa do mercado e evitar exatamente o que está acontecendo na curva nesse momento: a curva começar a precificar mais do que 100 pontos-base (pb) nas reuniões seguintes. A lógica é que, se você passou de 25 pb para 50 pb e para 100 pb, o que impede de passar para 150 pb na próxima? Quando ele promete que será 100 pb  e 100 pb, ao mesmo tempo está mandando um recado duro de que conseguem chegar aos juros de 14,25% em março”, diz a economista ao Money Times.

Nesta quarta (12), os juros futuros (DI) de 2027 chegaram a máxima de 15,07% ante 14,35% no ajuste anterior.

Ela recorda que o objetivo de ancorar as expectativas da inflação demandará mais alguns dados e rodadas da pesquisa Focus. O último IPCA, principal termômetro para medir a inflação, mostrou alta de 0,39%.

O indicador também acelerou a alta acumulada em 12 meses para 4,87%, de 4,76% no mês anterior. O avanço previsto pelo mercado era de 4,85%.

Com isso, a inflação em um ano segue acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central em 2024, de 3% com intervalo de 1,50 ponto percentual.

“Minha suspeita é que, enquanto não houver uma melhora fiscal substancial, podemos até ver uma estabilização das expectativas, mas uma queda significativa, com movimento na direção da meta de 3%, acho altamente improvável. Esse movimento, sozinho, não consegue reancorar as expectativas”, afirma.

Dólar em alta faz sentido?

Para a economista, era esperado que o dólar estivesse caindo. Segundo dados da Bloomberg, a moeda lidera a desvalorização entre os emergentes. A moeda subiu 0,86% em relação ao real, a R$ 6,0072.

“Não faz o menor sentido, considerando um Banco Central que entregou uma mensagem mais rígida do que o esperado”, afirma.

A partir disso, diz,  há duas outras hipóteses. Uma delas é a que circula nos mercados, relacionada à perspectiva de reeleição do presidente Lula, incluindo a questão de sua saúde e como isso pode impactar suas chances eleitorais.

“No entanto, considero essa uma leitura extremamente apressada e não vejo muita substância nas interpretações que tenho ouvido. Mas, novamente, quem define os preços é o mercado, não eu”, coloca.

Outra possibilidade, diz ela, é a ideia de que entramos na chamada dominância fiscal.

Na prática, isso significa que uma elevação da taxa de juros não causa o efeito esperado sobre o câmbio, porque, em vez de as pessoas considerarem o carry trade mais atrativo, elas passam a interpretar que isso agrava ainda mais uma dinâmica de dívida pública já problemática, afastando investidores ao invés de atraí-los.

“Não sei se já estamos em dominância fiscal. Meu palpite preliminar, pelo menos até ontem, era que não. Porém, como hoje há vários fatores que confundem — as notícias sobre a saúde do presidente Lula, os efeitos internacionais e a decisão do Copom —, é difícil apontar com precisão. Assim, não dá para afirmar que essa alta do câmbio seja evidência isolada de qualquer uma dessas variáveis”, argumenta.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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