Economia

Selic a 11,25%? Por que o Copom deve elevar o ritmo de altas dos juros

05 nov 2024, 8:08 - atualizado em 05 nov 2024, 8:19
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Copom divulga decisão para a Selic nesta quarta-feira (Imagem: Agência Brasil)

O Comitê de Política Monetária (Copom) volta a se reunir esta semana — nos dias 05 e 06 de novembro — e a expectativa de parte do mercado é de que os diretores acelerarem o ritmo do aperto monetário para 0,50 ponto percentual (p.p.), levando a taxa a 11,25% ao ano.

Na segunda-feira (04), as opções de Copom, contratos que permitem a negociação da variação da Selic, que indicam um movimento mais hawkish do que na reunião passada, valiam R$ 86, enquanto uma alta de 0,25 p.p. era cotada a R$ 1. Quanto maior o preço, maior o número de investidores que acreditam em cada um dos movimentos.

Economistas da XP afirmam que o fluxo de dados e notícias desde o encontro de setembro reforça a necessidade de uma política monetária mais restritiva para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) convirja à meta.

No caso da inflação, as últimas leituras sugerem que o índice, tanto de preços ao atacado quanto ao consumidor, vem rodando perto do limite superior do intervalo de tolerância da meta — de 4,50%.

“A inflação de serviços segue resistente e elevada, enquanto a inflação de bens industriais e alimentos começou a subir. A elevação dos preços das proteínas nos mercados domésticos ganhou destaque nas últimas semanas e deve pressionar o IPCA nos próximos meses”, dizem o economista-chefe Caio Megale e a equipe da XP.

A depreciação cambial é outro risco de alta para a inflação de curto prazo. “A taxa de câmbio ultrapassou 5,85 reais por dólar, refletindo os juros mais elevados dos títulos do Tesouro e as perspectivas eleitorais nos EUA; além das incertezas fiscais domésticas”, afirmam.

Eles citam ainda que os indicadores de ociosidade, como a taxa de desemprego e a utilização da capacidade instalada na indústria, atingiram novos recordes, sugerindo pressões nos custos de produção adiante.

Em linha, o economista-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, Rafael Cardoso, cita que as incertezas sobre o quadro fiscal também não devem encontrar solução rápida.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote de contenção de gastos está “muito avançado” do ponto de vista técnico e pode sair esta semana. Ainda assim, o mercado espera para ver haverá a reavaliação das regras no longo prazo, além do corte de curto prazo.

Quanto ao cenário externo, as incertezas, principalmente frente ao resultado das eleições nos Estados Unidos e seus impactos sobre os países emergentes, podem perdurar por mais tempo, diz Cardoso.

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Novo ritmo de altas da Selic?

Tanto a XP quanto o Daycoval cogitam que o Copom sinalize já nesta reunião uma preferência pelo novo ritmo de ajuste — de 0,50 p.p.

Isso, segundo os economistas, evitaria “especulações exageradas” sobre novas acelerações adiante. O mercado, inclusive, já cota uma possível alta de 0,75 p.p. na Selic na reunião de dezembro, conforme mostram as opções de Copom.

“Entendemos que o BC deverá continuar com o tom duro que já vem adotando”, afirma Cardoso, do Daycoval.

“Uma postura mais dura no curto prazo, podendo até abrir espaço para cortes de juros mais cedo adiante, parece um cenário cada vez mais provável”, dizem os economistas da XP.

Apesar da perspectiva, a XP não espera que os diretores deem indicações sobre a magnitude total do ciclo de aperto monetário. “Projetamos que o Copom levará a taxa Selic para — pelo menos — nossa atual previsão de taxa terminal de 12%. Nosso cenário atual prevê dois aumentos de 0,50 p.p. este ano e um aumento final de 0,25 p.p. em janeiro”.