Selic a 11,25%: Com cortes nos juros, economista responde se renda fixa ainda vale a pena em 2024
O Brasil iniciou o ano passado com uma salgada taxa básica de juros de 13,75% ao ano, alinhado à maioria dos países, que adotaram políticas monetárias mais rígidas para que sentissem um menor impacto da inflação gerada pela retomada da economia após a pandemia de Covid-19.
No Brasil, os investidores chegaram a conviver com uma taxa Selic de apenas 2% ao ano na fase mais aguda da pandemia, entre agosto e março de 2021, quando teve início um novo ciclo de aumento de juros pelo Banco Central.
A alta da Selic induziu o mercado a aumentar a alocação em renda fixa, já que possuía uma relação risco/retorno muito atraente. Dos prefixados aos pós-fixados, cada indexador tinha a sua vantagem.
“Muitos investidores optaram por garantir uma rentabilidade ‘certa’ acima de 1% ao mês, alocando predominantemente em prefixados. Como as expectativas para a inflação eram menos otimistas do que atualmente, os títulos IPCA+, com o componente prefixado acima da inflação bastante generoso, seguiu como o porto seguro para garantir bons ganhos reais. E como também ainda não havia muita clareza sobre até onde a Selic chegaria, os títulos atrelados ao CDI também mantiveram seu lugar garantido nos portfólios”, explica o economista Bruno Monsanto, da RJ+ Investimentos.
Em agosto do ano passado, no entanto, o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento com o primeiro corte na taxa Selic após mantê-la nos 13,75% por um ano. As reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) que se seguiram também mantiveram o ritmo dos cortes em 0,5 ponto percentual.
Na última reunião Copom, em dezembro, os integrantes optaram por mais um corte de 0,50 ponto na taxa Selic, passando de 12,25% para 11,75%. Na ata divulgada mais tarde, os indícios eram de mais um corte de 0,50 para a próxima reunião, que será ao final de janeiro.
Renda fixa manterá interesse com Selic em queda?
Com mais cortes no horizonte, os investidores se perguntam se a renda fixa ainda se mostra atrativa. Monsato diz que sim.
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Apesar de avaliar que emissores privados ainda possuem taxas melhores do que as do Tesouro Direto, o economista ressalta que é necessário avaliar as projeções para a inflação e os juros para entender o contexto macroeconômico dessas taxas.
Considerando que o último Boletim Focus apontou para uma taxa terminal de inflação em 2024 em 3,86% e de 3,50% para 2025, é possível considerar arredondar a conta para uma inflação de 4%.
“Se eu acredito que o Focus não vai errar feio, posso alocar em um prefixado de 10%, esperando um ganho real de 6% ao ano. Vale a ressalva de que, quanto maior o prazo do título prefixado, maior o seu risco, tanto de crédito quanto de mercado, ou seja, o custo de oportunidade. Além do risco de haver qualquer evento de stress no mercado que cause pressão inflacionária”, explica Monsanto.
Quando se olha para a Selic prevista no relatório – o Focus projeta uma taxa terminal em 2024 de 9% e 8,50% em 2025 – Monsanto aponta possibilidades de ganhos ainda em prefixados, mas com ciência dos riscos.
Agora, quanto aos títulos indexados à inflação, a alocação pode ser reduzida gradualmente e até mesmo gerar ganhos na saída com a marcação a mercado, segundo ele. É aconselhado, ainda, deixar uma parcela dos investimentos em CDI.
Mas a “dica de ouro” do economista é alocar nos títulos que são “CDI + %”, já que, com a queda nos juros, você pode até perder na porcentagem do CDI, mas ainda terá uma outra fatia para ganhar em cima, decorrente dos juros ofertados a mais.