Selic a 10,75%: Gramática é um dos pontos que o Copom vai considerar na hora de cortar os juros
Nesta quarta-feira (20), o Comitê de Política Monetária (Copom) deve confirmar mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic — o sexto consecutivo da mesma magnitude.
Com isso, a Selic passará de 11,25% para 10,75% ao ano, o menor patamar da taxa básica de juros desde março de 2022.
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No entanto, isso já é o esperado pelo mercado. O que os investidores querem saber é do comunicado do Banco Central. Isso porque ainda não está claro se a autoridade monetária vai manter o ritmo de cortes ou se deve pisar no freio e adotar um reajuste mais brando, de 0,25 pp.
“Todos estão aguardando o comunicado do BC para checar se este vem no plural ou no singular. No primeiro caso, trata-se de uma indicação de que os cortes serão em 0,25% e, no segundo caso, o corte será de 0,50%”, afirma Volnei Eyng, CEO da Multiplike.
Selic: Veja os fatores que o Banco Central está considerando
Cenário internacional
A tendência é de que o Banco Central fique de olho nos movimentos do Federal Reserve, já que a política monetária americana pode afastar investidores do Brasil e mexer com o câmbio.
A expectativa é de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) mantenha a taxa de juros no atual patamar de 5,25% e 5,50%.
Além disso, o Fed pode sinalizar a favor das apostas do mercado de cortes a partir de junho. Os investidores também estarão de olho no tom do discurso do presidente Jerome Powell, que pode dar pistas sobre os próximos passos do Fed.
Powell já tinha dado um aceno para o mercado ao falar que o banco central americano não estava longe de ter confiança com a inflação para cortar os juros, antes mesmo de chegar na meta de 2%. O problema é que, de lá para cá, os dados inflacionários e de mercado de trabalho deram uma pressionada nesse discurso.
Agora, o mercado quer entender se o Fed vai manter os planos de três cortes nos juros ao longo do ano ou se pode ser mais cauteloso.
“A economia dos EUA continua robusta, como evidenciado pelos últimos dados do payroll, e a inflação permanece acima da meta do Fed, embora mostre sinais de queda. Com essas informações, o mercado agora espera um início do corte de juros a partir de junho”, destaca Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.
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Inflação
Os analistas da XP destacam que o fluxo de dados desde a última reunião do Copom trouxe mais preocupações do que boas notícias para o cenário de inflação. Segundo o relatório, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou acima das expectativas em janeiro e fevereiro.
“Os resultados desagregados não foram tão ruins, já que o núcleo da inflação ficou praticamente estável (acima da meta) e o núcleo de serviços veio um pouco melhor do que o esperado. Ainda assim, a inflação no acumulado do ano atingiu 1,25%, ou seja, 41% da meta para o ano (a média histórica aponta que a inflação do primeiro bimestre corresponde a cerca de 25% da inflação que fecha o ano)”, apontam.
Além disso, houve surpresas altistas do lado dos preços. É o caso da inflação de serviços, especialmente aqueles mais sensíveis à renda e ao ciclo econômico, e da alta nos preços do alimentos — puxados, principalmente, pelo El Niño.
Se o Banco Central entender que esse movimento inflacionário é uma tendência, ele pode rever os próximos passos da sua política econômica.
Gramática
No final, tudo não passará de uma questão gramatical. Os últimos comunicados do Copom vieram com o seguinte trecho:
“Os membros do Comitê antecipam, por unanimidade, novas reduções da mesma magnitude nas próximas reuniões.”
Essa frase pode estar com os dias contados, pelo menos na parte do plural. No ano passado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que quando a autoridade monetária coloca essa frase em seus documentos, significa que eles estão olhando duas reuniões para frente.
Ou seja, se o “próximas reuniões” foi usado na reunião de dezembro, significa que estão confirmados cortes em janeiro e março.
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No entanto, a dúvida geral é se o Banco Central indicará uma nova redução de 0,50 pp “na próxima reunião”, sem o plural. Ou seja, a Selic poderia ir para 10,25% na reunião de maio, como o previsto. Mas depois disso, o Copom vai avaliar se mantém o ritmo ou reduz para 0,25 pp.
“O Copom poderá optar por explicitar no comunicado oficial que o forward guidance depende da evolução do cenário. Alguns membros do Banco Central têm enfatizado, em discursos públicos, que o forward guidance não deve ser confundido com determinação de juros”, destaca o relatório da XP. “Caso os riscos mencionados se concretizem, o Copom poderá ajustar a comunicação na reunião de maio e sinalizar um ritmo mais lento antes do esperado. Mas acreditamos que isso não precisa ser feito agora, já que pelo menos três cortes adicionais de 0,50 p.p. (incluindo o desta semana) parecem, de longe, o cenário mais provável”, completa.