Taxa Selic

Selic a 10,50%: Campos Neto e Galípolo ‘apertam as mãos’ e interrompem ciclo de cortes do Copom

19 jun 2024, 19:00 - atualizado em 20 jun 2024, 12:16
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Decisão do Copom de manter a Selic no patamar de 10,50% ao ano foi unânime (Imagens: Divulgação/Banco Central do Brasil)

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic no patamar de 10,50% ao ano foi unânime. Campos Neto e Gabriel Galípolo votaram na manutenção dos juros, acompanhados por Ailton Santos, Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso, Paulo Picchetti, Renato Gomes e Rodrigo Teixeira.

“O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz.

O Copom destaca ainda se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.

Para o economista e estrategista Macro do BTG Pactual Portfolio Solutions, Álvaro Frasson, a unanimidade na decisão dos diretores é importante para recuperar a credibilidade do Banco Central (BC).

Nesse sentido, o economista do banco BV, Carlos Lopes, destaca que a novidade do comunicado foi sinalizar o cenário alternativo de projeções para a ancoragem das expectativas da inflação. Se a Selic for mantida estável, as projeções deve ficar em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025.

“É um sinal indireto de que a atual composição do BC pretende manter a taxa de juros parada ao menos até o final deste ano”, avalia. Já para o ano que vem, o economista espera que o ciclo de cortes seja retomado, ainda que em um patamar mais elevado, dado ao acumulo de incertezas, principalmente, do lado fiscal.

Banco Central recuperando credibilidade

Na reunião passada, de maio, a decisão do Copom foi dividida. Os cinco membros mais antigos, incluindo Campos Neto, votaram em uma redução de 0,25 ponto percentual (p.p.), enquanto Galípolo e os outros três indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva optaram por um corte de 0,50 p.p.

A divergência nos votos passou a impressão de que os diretores mais conservadores querem fazer tudo para colocar as expectativa de inflação de volta nos trilhos, enquanto os mais heterodoxos buscam evitar que os juros altos comprometam o crescimento econômico.

Com o mandato de Campos Neto próximo do fim e os novos diretores — e favoritos a substituir o atual presidente do BC — com posturas mais expansionistas, o mercado se preocupou com o indício de que as próximas indicações de Lula levariam à formação de colegiado mais leniente com a inflação futuramente.

Vale destacar que, após uma decisão de maio, o presidente da autarquia Campos Neto tentou passar um tom de maior coesão do cenário entre os membros. Galípolo, inclusive, demonstrou maior preocupação com a desancoragem, dizendo que é “o principal ponto de desconforto do comitê” e o deixa em uma “posição delicada”.

Lula critica Campos Neto e Selic “alta”

O presidente Lula voltou a criticar Campos Neto esta semana. Em entrevista à rádio CBN, na manhã de terça-feira (18), ele disse que o dirigente da autoridade monetária não demonstra “capacidade de autonomia” e tem “lado político”.

“A quem esse rapaz é submetido? Como vai a festa em São Paulo quase assumindo candidatura a cargo no governo de SP? Cadê a autonomia dele?”, questionou Lula, se referindo à homenagem que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — aliado de Jair Bolsonaro e cotado para concorrer às eleições de 2026 — fez ao presidente do BC.

Sobre o sucessor de Campos Neto, o presidente disse que indicará uma pessoa que tenha “compromisso com o crescimento do país”. “Vou escolher um presidente do Banco Central que seja uma pessoa que tenha compromisso com o desenvolvimento desse país, controle da inflação, mas que também tenha na cabeça que a gente não tem que pensar só no controle da inflação, nós temos que pensar em uma meta de crescimento, porque é o crescimento econômico, da massa salarial que vai permitir a gente controlar a inflação”, disse.

Lula ainda destacou que a atual taxa Selic está muito alta, a ponto de atrapalhar o investimento no setor produtivo, e que é preciso baixar os juros a um patamar compatível com a inflação.

“A inflação está totalmente controlada. Agora, fica se inventando discurso de inflação do futuro, que vai acontecer. Vamos trabalhar em cima do real, o Brasil está vivendo um bom momento. A economia está andando, os empregos estão crescendo, o salário está crescendo, a inflação está caindo”, afirmou.

  • Como a decisão da taxa Selic pode impactar os seus investimentos? O economista Sergio Vale explica como comunicado do Copom poderá mexer com o mercado nesta edição especial do Giro do Mercado; salve o link da transmissão:

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