Vacinas

Secretaria contra Covid-19 contradiz discurso de Bolsonaro e afirma ao STF que vacinas são seguras para crianças

27 dez 2021, 14:05 - atualizado em 27 dez 2021, 14:05
A vacina da Pfizer já recebeu autorização para a aplicação em crianças, mas o governo ainda não definiu o cronograma ou mesmo a data de início (Imagem: REUTERS/Carlo Allegri)

A Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério da Saúde afirmou, em nota técnica enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), que os testes de vacinação para crianças e adolescentes não apresentaram preocupações sérias quanto à sua segurança, em uma clara contradição ao discurso que o governo vem adotando nos últimos dias.

A nota técnica lembra ainda que a vacina já é oferecida a essa faixa etária em 13 países e que, no Brasil, é acompanhada por cientistas, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela própria pasta, após receber o aval da agência reguladora.

“Antes de recomendar a vacinação Covid-19 para crianças, os cientistas realizaram testes clínicos com milhares de crianças e nenhuma preocupação séria de segurança foi identificada”, diz o parecer, assinado pela secretária Rosana Leite de Melo, citando ainda que esses resultados foram levados em conta pela Anvisa quando autorizou, em 16 de dezembro, o uso da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos.

“As vacinas Covid-19 estão sendo monitoradas quanto à segurança com o programa de monitoramento de segurança mais abrangente e intenso da história do Brasil.

O PNI monitora a segurança de todas as vacinas COVID-19 depois que as vacinas são autorizadas ou aprovadas para uso, incluindo o risco de miocardite em pessoas acima de 12 anos de idade”, segue a nota.

Editada em resposta a ação apresentada ao STF pelo PT pedindo que o governo apresente complementação do Plano Nacional de Vacinação (PNI) incluindo as crianças acima dos 5 anos de idade no programa de imunização contra a Covid-19, com um cronograma prevendo o início da vacinação para essa faixa etária.

A vacina da Pfizer já recebeu autorização para a aplicação em crianças, mas o governo ainda não definiu o cronograma ou mesmo a data de início.

No dia do aval da Anvisa para essa faixa etária, o presidente Jair Bolsonaro, que se declara abertamente contra as vacinas e levanta dúvidas também sobre a imunização de crianças, afirmou que pediria informalmente a divulgação dos nomes das pessoas da agência responsáveis pela autorização.

Depois disso, técnicos e diretores da Agência passaram a ser ameaçados por e-mail ou redes sociais. Uma investigação foi aberta pela Polícia Federal.

O Ministério da Saúde, em uma medida incomum, já que cabe legalmente à Anvisa atestar a segurança e eficácia de vacinas, decidiu realizar uma consulta pública sobre o assunto. E o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a afirmar, na última semana, que o número de mortes de crianças entre 5 e 11 anos causadas pela Covid-19 é baixo e não justifica acelerar a vacinação para a faixa etária.

Datada do dia 19, a nota técnica que veio à tona nesta segunda-feira afirma ainda que as crianças têm a mesma probabilidade de serem infectadas pela Covid-19 que os adultos “e podem adoecer gravemente com evolução para hospitalização, além de complicações a longo prazo”. O documento relata que doenças neurológicas, uso de imunossupressores e asma foram as comorbidades mais reportadas entre crianças de 5 a 11 anos que adoeceram e morreram por Covid-19 no Brasil.

“A Covid-19 está classificada como uma das 10 principais causas de morte de crianças de 5 a 11 anos”, diz o parecer técnico.

A nota lembra ainda a identificação de casos de uma nova apresentação clínica associada à Covid que ficou conhecida como Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), caracterizada por um quadro inflamatório tardio e grave, que pode, em casos mais graves, evoluir para óbito.

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