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Seca e fome destacam necessidade de transgênicos, diz CEO

26 abr 2021, 14:22 - atualizado em 26 abr 2021, 14:22
Trigo
O trigo biotecnológico, por outro lado, seria consumido diretamente por humanos em pães e massas (Imagem: Pixabay)

Um mundo com produção de alimentos insuficiente pode estar próximo e só poderá ser evitado se os humanos deixarem de lado o receio de comer produtos geneticamente modificados.

Essa é a opinião de Federico Trucco, diretor-presidente da Bioceres Crop Solutions, empresa que está literalmente tentando colocar o pão de cada dia na mesa com a polêmica tecnologia.

A Bioceres busca o sucesso onde nenhuma outra empresa conseguiu vendendo trigo geneticamente modificado.

Embora a grande maioria das safras de soja e milho mundiais já seja transgênica, esses grãos são destinados à alimentação do gado.

O trigo biotecnológico, por outro lado, seria consumido diretamente por humanos em pães e massas, algo que consumidores e reguladores mostraram forte rejeição no passado.

Atualmente, apenas a Argentina, sede da Bioceres, já aprovou o trigo transgênico.

Trucco envia o alerta maltusiano sobre a futura escassez de alimentos quando líderes mundiais reforçam compromissos para reduzir emissões em meio aos efeitos da mudança climática na produção agrícola e quando a alta dos preços dos alimentos agrava o problema da fome ao redor do mundo.

“Vai chegar a um ponto em que se torna exponencial e, de repente, precisamos mudar as coisas ontem”, disse Trucco em entrevista. “E sinto que isso acontecerá em breve. Não estamos falando para além de cinco anos.”

Outras empresas, como a Monsanto antes de sua fusão com Bayer, reverteram os planos para o trigo transgênico devido às fortes críticas, e a Bioceres ainda rema contra a maré de reguladores hesitantes e consumidores com medo.

No entanto, um marco pode chegar em apenas algumas semanas com a reunião de reguladores no próximo mês no Brasil, um grande importador.

Se o Brasil aprovar o trigo da Bioceres, a empresa poderá começar a vender em seu primeiro mercado.

Trucco, descendente de agricultores italianos imigrantes com doutorado em ciências agrícolas pela Universidade de Illinois, descreveu a tarefa de fazer com que o trigo transgênico seja aceito como “monumental”.

Há quase duas décadas, a Bioceres – listada em Nova York e com sede em Rosário, cidade ribeirinha que é o centro de exportação da produção agrícola da Argentina – vem desenvolvendo trigo e soja geneticamente modificados para resistir às secas cada vez mais frequentes das Américas à Australásia.

Também investe em uma empresa que insere genes de animais em plantas para aumentar o teor de proteínas, uma aposta no crescente mercado de carnes alternativas.

Uma nova geração de culturas geneticamente modificadas resistentes ao clima seco ajudaria a colocar um piso para os preços e mitigar a volatilidade dos últimos meses, disse Trucco.

A Bioceres já está em negociações para convencer moinhos e fabricantes de alimentos no Brasil a usar sua cepa de trigo transgênica, enquanto também busca autorização em outros países, como nos Estados Unidos, Austrália, atingida pela seca, e Ásia.

“Se pudermos consolidar nossa posição na América Latina e depois persuadir outras geografias com seus clientes a se juntarem à essa monumental busca, podemos ter uma abordagem em estágios para tornar isso uma realidade”, disse Trucco.

A Bioceres se prepara para vender até US$ 200 milhões em títulos atrelados à sustentabilidade que pagariam cupons vinculados à captura de carbono nas fazendas.

Como as culturas da Bioceres continuam a fotossintetizar em climas mais secos, teoricamente absorvem de 6% a 7% mais dióxido de carbono do que outras plantas.

“Tivemos uma recepção muito boa” dos investidores, disse Trucco. “Há interesse em tentar entender como os organismos geneticamente modificados podem ajudar a enfrentar a mudança climática.”