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Se você é contra as criptomoedas, também é contra o progresso

09 jan 2021, 11:00 - atualizado em 06 jan 2021, 14:29
Confira, neste artigo por James Gillingham, cofundador da plataforma de negociação Finxflo, quais são os argumentos contra e a favor das criptomoedas e tenta chegar a um equilíbrio entre eles neste início de 2021 (Imagem: Unsplash/kaip)

O atual estado do debate pró-cripto vs. anticripto pode ser comparado a qualquer tipo de discurso hoje em dia, em que o sentimento prevalece sobre os fatos.

Isso se reflete na presença de alegações infundadas e no uso excessivo de hipérbole, sugerindo um entusiasmo exagerado de um lado, e pouco engajamento crítico do outro.

Embora hipérboles sejam úteis na escrita, seja pelo apoio dos defensores ou pela chacota dos opositores, resultam em conclusões inconsistentes — e, com certeza, em péssimas decisões de investimento a longo prazo.

A atual divisão entre defensores (“bulls”) e opositores (“bears”) de cripto pode ser comparada à famosa imagem ambígua do cartunista britânico William Hill, intitulada “My Wife and My Mother-in-Law” (ou “minha esposa e minha sogra”).

A imagem alterna entre uma jovem moça e uma velha senhora, dependendo do paradigma escolhido pelo observador.

De forma parecida, a conversa sobre criptomoedas tende a representar duas perspectivas completamente diferentes, caracterizado por defensores ferrenhos de um lado e céticos intensos do outro.

Você é um defensor ou opositor das criptomoedas? (Imagem: Pixabay/nosheep)

O que também não ajuda é a forma como muitos entram na conversa sobre criptomoedas como se estas fossem um esporte de competição. Cada discussão precisa ter um vencedor. Essa dinâmica cria não apenas interlocutores ruins, mas pensadores prejudicados.

Uma abordagem de “vencer a qualquer custo” à dialética atrapalha o diálogo do que realmente deveria ser considerado como válido: a busca por hipóteses verificáveis. Assim, a intenção não deve ser marcar pontos, e sim de avançar, em conjunto, na busca pela compreensão.

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Não há espaço para as finanças tradicionais

Um ótimo ponto de partida é encontrar um acordo mútuo de consenso.

Concordamos que, agora, os interesses dos bancos tradicionais são hostis ao bem-estar financeiro dos clientes e que bancos centrais não são mais os protetores de moedas fiduciárias, e sim exploradores de um grande sistema de pagamentos e infraestrutura comercial hostil ao individualismo.

Por fim, o processamento de dados pessoais, sociais e financeiros se tornou intrusivo e cada vez mais mal utilizado como um veículo de controle. Acrescente a rápida evolução da inteligência artificial e as luzes de alerta se acendem.

Isso é bem evidente no crescente número de atividades de verificação de segurança, requisito de regulação e coleta de dados presentes em atividades on-line. O que parece uma proteção inofensiva para clientes não o é.

Embora saibamos que tudo o que fazemos on-line pode ser rastreado e registrado, nem todos têm consciência das oportunidades que celulares fornecem a empresas e agências governamentais de nos espiar (Imagem: Crypto Times)

O acesso ao reconhecimento facial de um smartphone pode ser um meio eficiente de segurança até percebermos que uma empresa bem-conhecida coletou três bilhões de imagens faciais da internet.

Da mesma forma, o oligopólio de dados emprega os maiores neurologistas do mundo para mapear outros caminhos de manipulação.

Por fim, devemos referenciar o ponto principal da contenção, que é a integridade comercial. Adversários citam investidores ou como ideólogos ou especuladores ricaços, relegando moedas para reanimar esquemas de pirâmide e Ponzi — ou pior: o recurso de ditadores caídos, fraudadores e criminosos.

O que falta nessa análise é que essas críticas são comuns para todos os investimentos: ações, opções, futuros, compras, vendas e, com certeza, fraudadores e figuras suspeitas buscam afastar sua riqueza do escrutínio moral.

Assim como a humanidade, o dinheiro é um transmissor do bem e do mal, tanto para oportunidade como para exploração. Sempre haverá um desejo de economizar na geração de riqueza.

Porém, no fim, criptomoedas são comercialmente amorais; o que molda e valida o mercado para elas é o ethos do investidor coletivo.

Em todos os mercados emergentes, transações com criptomoedas enfrentam todos os problemas citados acima, mas são normais e naturais.

A maturidade comercial virá com os reais investidores, que identificam boas oportunidades, permitindo que a evolução comercial assegure a sobrevivência daqueles que mais se adaptarem ou forem adaptáveis na facilitação de necessidades reais do mundo comercial. O dinheiro bom expulsa o dinheiro ruim.

O papel do blockchain

Defensores e opositores também podem concordar que a atual dinâmica da infraestrutura financeira está migrando para uma direção negativa e cada vez mais instável.

Falar que as moedas fiduciárias correm o perigo de se tornarem desvalorizadas ou inúteis não é algo polêmico, e sim uma afirmação de um fato contemporâneo, como mostram a Venezuela e o Zimbábue.

Da mesma forma, conforme o digital se enraiza cada vez mais em cada faceta da vida, ambos os lados do debate reconhecem os perigos de falhas de segurança, os hacks, a invasão de privacidade e a resultante manipulação de clientes.

Em resposta a essas ameaças, defensores e opositores de cripto devem se unir para afirmar vivamente o valor, o futuro e, aliás, o papel representado pelas tecnologias blockchain, mesmo se ainda houver discordância sobre sua execução.

Podemos encontrar um ponto em comum sobre a estratégia geral enquanto contestamos as táticas.

A velocidade e profundidade das ameaçadas acima produziram uma reação comum que condenaram a tecnologia financeira tradicional, junto com a crescente onda de regulamentação, à quase extinção até o fim da década.

A adesão onipresente do blockchain não será forçada pelas pressões comerciais, e sim pela vontade irresistível das pessoas.

Embora estejamos muito distantes da substituição da hegemonia fiduciária por cripto, caso essas tendências não fossem reais, não estaríamos tendo esta conversa.

Um ano atrás, a ideia do fim das fiduciárias ainda seria ridicularizada por grande parte das pessoas. Em um mundo transformado pela COVID-19, seu abalo financeiro e o crescimento de finanças alternativas pró-cripto, como DeFi, existe bem menos ridicularização.

Daqui a um ano, qual será a perspectiva pró-cripto em todos os meridianos?