Se o País tivesse fertilizante, teria oferta interna ante a pressão mundial? “É a economia, estúpido”
Fosse o Brasil já produtor de fertilizantes, com boa folga para suprir suas necessidades, os produtores locais estariam pagando preços razoáveis, sem risco de desabastecimento, diante da demanda mundial gritando pela falta de potássicos e nitrogenados?
A resposta parece bastante clara. Não.
Na disputa com as principais agriculturas mundiais concorrentes do País, mandaria o poder de compra de cada um – neste momento, haveria uma pequena vantagem brasileira diante do real mais valorizado -, e a explosiva cotação internacional prevaleceria no mercado interno.
O Brasil já viveu isso com o arroz, soja e milho recentemente.
O encurtamento da oferta da Rússia e de Belarus, que não é de hoje, em até 80% do consumo brasileiro de fertilizantes, se agravou com o conflito militar na Ucrânia e o Brasil acordou para projetos privados e sobre mineração antes engavetados.
As empresas que agora manifestam interesse sabem que muito dificilmente o fluxo de fertilizantes vai ser normalizado e os preços vão compensar a exploração. Não acordaram por nacionalismo.
A Petrobras (PETR4) desinvestiu em três plantas no governo Temer justamente porque os custos não tinham equilíbrio comercial, mesmo tendo um vasto consumo à disposição no Brasil.
Falar, portanto, que a produção nacional, até o ufanismo da autossuficiência como já se diz, será a salvação da lavoura, é um exagero rematado.
E tentar vender um nacionalismo muito desonesto. Melhor dizer que é importante estar presente nesse segmento como mais um a diversificar a extensa cadeia agropecuária.
E, como nas outros, vai ser balizado pela lei de oferta e demanda. Não é nada errado, por sinal.
Quando, em 2020, o Brasil disparou a exportar arroz (pelo represamento em seus mercados internos pelos asiáticos diante da pandemia), soja e milho, a autossuficiência brasileira foi para o espaço.
Só não houve desabastecimento interno porque as indústrias tiveram que pagar o desafio dos preços internacionais, mais a valorização do dólar, para terem os produtos internamente.
As famosas inflações do arroz e do óleo de soja, e suas causas exportadoras, estão aí ao alcance de qualquer pesquisa do Google.
No milho, por exemplo, o governo zerou a alíquota de importação para aliviar a indústria de proteína animal, que nunca mais conseguiu se recuperar porque ao longo de 2021 não houve alívio também nas cotações internacionais.
Estavam errados os exportadores? Não. É do jogo do capitalismo.
Dizer que esses exemplos não foram a mesma coisa que pudesse estar acontecendo com os fertilizantes ‘made in Brazil’, é viver em outra realidade. São, sim, a mesma coisa.
É uma daquelas coisas que cabem no guarda-chuva da famosa frase do economista James Carville, durante a campanha vitoriosa de Bill Clinton contra George Bush: “É a economia, estúpido”.