Se não abrir o olho, Brasil terá nova crise (mesmo com reformas)
A projeção do UBS de crescimento do PIB de 3,1% em 2018 não isenta o Brasil de encarar uma crise financeira, segundo avaliação dos economistas do banco suíço, Tony Volpon e Fabio Ramos. Nos cálculos deles, a equação para equilibrar as contas públicas requer um salto na produtividade e nos investimentos. Sozinho, o ajuste fiscal pode ser inócuo.
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A solução passa por evitar a trajetória explosiva de avanço dos gastos (ajuste) e, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade de crescimento (produtividade). “Um dado chave para medir a quantidade de restrição necessária [nas despesas] para estabilizar a dívida em relação ao PIB é o nível de produtividade potencial”, escrevem Volpon e Ramos em relatório publicado na quinta-feira (9) e obtido pelo Money Times.
Neste contexto, de acordo com os números dos economistas do UBS, os cenários para o PIB potencial brasileiro abrangem a possibilidade de variação do produto entre -2,1% a 6,0%.
Aos números
Se crescer a produtividade perto do limite inferior da projeção, mesmo com a implementação fiel do teto de limite de gastos, a relação da Dívida/PIB não irá convergir e o Brasil irá provavelmente enfrentar uma crise financeira. Já se crescer no limite superior, um ponto de inflexão pode ocorrer em breve.
E, para fazer isso, o UBS ressalta que precisamos elevar a nossa produtividade total dos fatores (PTF), ou seja, ampliar a produção com maior eficiência. Isso está intimamente ligado aos investimentos em infraestrutura, educação, estabilidade política, entre outros. Isso tende a aumentar o nosso PIB potencial.
Entre 2000 e 2010, este indicador cresceu 1,5% ao ano, enquanto que no período de 2011 a 2017, ele teve um desemprenho negativo de 2,8%. O UBS estima que se o Brasil retornar, ao menos, à média histórica de FTP e investimentos em relação a PIB, o crescimento potencial iria então para 1,9%. No entanto, a tabela abaixo revela que o PIB potencial pode ir até 6%:
PIB potencial em relação ao PTF e taxa de investimento (%PIB) | |||||
---|---|---|---|---|---|
PTF versus TI | 15,0% | 16,5% | 18,0% | 19,5% | 21,0% |
-3,0% | -2,1% | -1,8% | -1,6% | -1,4% | -1,1% |
-1,5% | -0,6% | -0,3% | -0,1% | 0,2% | 0,4% |
0,5% | 1,4% | 1,7% | 1,9% | 2,2% | 2,4% |
2,5% | 3,4% | 3,7% | 4,0% | 4,2% | 4,5% |
4,0% | 5,0% | 5,2% | 5,5% | 5,7% | 6,0% |
Do lado negativo da análise, o UBS ressalta que seria anormal para uma economia como a do Brasil ter uma média negativa de FTP: “o que pode ser associado com recessões e períodos de má gestão macroeconômica e/ou crises políticas”, lembra Volpon. Portanto, ele ressalta que um cenário “normal” pessimista seria mesmo um crescimento em torno de 1,4%.
O Brasil, contudo, pode ter muito mais e a experiência histórica dá base para acreditar em uma taxa de 4,2%. O extremo de 6% não é citado por Volpon, mas só a chance remota de que isso pode acontecer, quem sabe, dê animo para a classe política brasileira não estragar tudo mais uma vez.