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Se houver choque de credibilidade fiscal, bolsa sobe 30% em uma semana, diz CIO do Itaú

19 dez 2024, 8:34 - atualizado em 19 dez 2024, 8:34
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(Imagem: REUTERS/ Carla Carniel)

Credibilidade é o nome do jogo quando o assunto é a relação entre o governo e o mercado financeiro. Segundo o diretor da área de estratégias de investimentos e CIO do Itaú Unibanco, Nicholas McCarthy, um choque de credibilidade fiscal seria capaz de impulsionar a bolsa de valores brasileira em mais de 30% em apenas uma semana.

O executivo diz que o pacote de contenção de gastos anunciado pelo governo frustrou as expectativas. Além do ajuste possivelmente ser insuficiente para cumprir o limite de crescimento de despesas do arcabouço fiscal, foram elencadas poucas medidas estruturais de contenção de gastos à frente.

A aversão ao risco mantém os ativos pressionados, em meio à percepção de desidratação do pacote fiscal. O Ibovespa (IBOV) cai cerca de 5% desde que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou as medidas no final do mês passado.

Para mudar esse cenário, segundo McCarthy, é necessário “atacar os desafios fiscais com seriedade”. “Não estamos vendo os fiscais sendo atacados da forma que o mercado acredita que deveria acontecer. As pessoas falam que tem muita notícia do mercado, mas os ativos brasileiros precificam uma piora no cenário futuro antes”, diz.

O CIO do banco afirma que a credibilidade do país está em jogo dada à falta de visibilidade do governo, o que consequentemente tem impactado o fluxo de investimento estrangeiro na B3. Os dados mostram que, até dia 16 de dezembro, a debandada dos gringos em 2024 já resultou em mais de R$ 32 milhões em retiradas.

Enquanto as incertezas fiscais se intensificaram, o Brasil ainda observa maiores pressões inflacionárias e uma economia em crescimento.

O contexto de câmbio em baixa, expectativas de inflação desancorada e crescimento acima do potencial torna o cenário desafiador para o Banco Central, que deve elevar ainda mais a Selic. Na última reunião deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) já aumentou a taxa em 1 ponto percentual e indicou mais duas altas da mesma magnitude nas próximas reuniões.

McCarthy diz que a perspectiva de altas adicionais na Selic deve continuar a atuar contra a valorização das ações brasileiras. “Esperamos que as projeções de lucros das empresas sejam revisadas para baixo, refletindo um cenário mais desafiador à frente”, afirma.

Ao mesmo tempo, ele pontua que as maiores incertezas em relação aos mercados emergentes, em geral, quanto ao comércio internacional e ao valor do dólar também devem trazer volatilidade para a bolsa. “Apesar de continuarmos a enxergar fatores positivos para a bolsa, entre eles múltiplos deprimidos e o ciclo de corte de juros nos EUA, o cenário local segue a demandar uma postura mais cautelosa”.

Com isso, o Itaú está com exposição dois níveis abaixo de neutro na B3 (-2). Significa que o banco está investindo menos do que o normal em ações brasileiras. Trata-se do menor peso em ao menos oito anos, sendo que o nível equivale a uma posição de 5%.

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Brasil fora do radar

Diante da incerteza atual, o CIO do Itaú afirma que o Brasil está fora do radar do mundo, sendo que, para ele, falta visibilidade do que vai acontecer no país. “Precisamos dar uma visibilidade para investimentos voltarem, e assim controlar a inflação e poder cortar os juros”, diz.

“Ninguém olha para o Brasil mundialmente. Enquanto a gente não tiver visibilidade, os investimentos ficarão parados“, reitera.

Vale lembrar que as projeções para os países emergentes não são das melhores para o ano que vem. Segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), os investidores estrangeiros devem reduzir em quase 25% o dinheiro que enviam para mercados emergentes em 2025 — pressionando ainda mais a bolsa brasileira.

Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduanda em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.
giovana.leal@moneytimes.com.br
Editora-assistente no Money Times e graduanda em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.