Economia

Se foi metáfora para emissão, saiba se o Brasil pode ou não precisar da “chuva de dinheiro” de Guedes

10 maio 2020, 13:37 - atualizado em 10 maio 2020, 14:41

 

Aumento da base monetária divide economistas sobre as reais necessidades da economia brasileira (Imagem: Câmara dos Deputados/Divulgação)

Se a declaração de Paulo Guedes “vamos chuveirar dinheiro na economia inteira se houver depressão” foi uma metáfora para a monetização da economia, ele estaria se alinhando ao que disse dias atrás e deixando uma porta de saída contra seus próprios dogmas caso essa condição de recessão muito agravada e de duração mais longa se instale.

Por hora, no entanto, na mesma live do Itaú Unibanco (ITUB4), o ministro da Economia disse acreditar que os fundamentos da economia estão resguardados e que a retomada do crescimento virá pelo mercado e por investimentos em obras de infraestrutura.

No que concorda o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, que ainda vê sinais vitais do mercado e para quem a ‘impressão de dinheiro’ é danosa “e destruiria tudo o que foi construído pelo Plano Real”.

Também ouvido por Money Times, Antonio Côrrea de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), não vê outra solução. Ele já acredita que já há um embrião de depressão.

“Os governos não têm saída. Diante da depressão econômica em curso terão que emitir moeda e títulos”, afirma, colocando governos no plural por acreditar que o ambiente é generalizado: “O mundo todo sairá mais endividado da crise”.

Para Agostini, porém, o adicional de recursos que chegou ao sistema financeiro, e que podem ser liberados quando as condições da economia estiverem mais firmes, forneceu um colchão para a economia.

“O Banco Central e o Conselho Monetário Nacional já deram R$ 1,2 trilhão em liquidez, mas por enquanto estão empoçados porque os bancos estão preocupados com o que vem pela frente em relação a emprego e renda”, diz Agostini ao Money Times.

Essa injeção de liquidez, ainda que não haja prazo – já que não se sabe quando os sinais vitais de economia fiquem mais sólidos – ajudaria a oxigenar o mercado antes que uma depressão se estabelecesse.

Mas diante dos mais de R$ 700 bilhões em políticas de ajuda fornecida nas últimas semanas para atenuar a crise da pandemia, cerca de 10% do PIB, Lacerda recorre a artigo recente.

“Não há, ob­vi­a­men­te, es­pa­ço pa­ra is­so no Or­ça­men­to, e se­rá pre­ci­so am­pli­ar a emis­são mo­ne­tá­ria e a dí­vi­da pú­bli­ca pa­ra fa­zer fren­te aos gas­tos. É um mon­tan­te ex­pres­si­vo, mas não fa­zê-lo sig­ni­fi­ca­ria um cus­to econô­mi­co e so­ci­al mui­to mais al­to, por cau­sa do apro­fun­da­men­to da de­pres­são e seus efei­tos, co­mo a que­bra de em­pre­sas, au­men­to do de­sem­pre­go e co­lap­so da ren­da e, tam­bém, da ar­re­ca­da­ção tri­bu­tá­ria, ge­ran­do for­te im­pac­to fis­cal ne­ga­ti­vo”, escreveu o também diretor da Faculdade de Economia da PUC/SP.

A emissão de moeda e recompra de títulos, mesmo em cenário prolongado de inflação zero ou perto de zero – primeiros sinais de estagflação – carrega um custo considerável.

A liquidez na economia realimenta a inflação, com o aumento do poder de compra forçado, e expande o déficit fiscal, uma vez que monetização é dívida feita.