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Se e como funcionar, Arca de Noé da Marfrig com a BRF servirá para diluição de risco

02 jun 2021, 15:14 - atualizado em 02 jun 2021, 15:14
Futuro de Marfrig e BRF é cercado de desafios, mas com ganho complementar (Criação: Money Times)

As proteínas continuarão concorrentes entre os consumidores, mas unidas no mesmo caixa. De maneira simplista e prática, pode ser o resumo do negócio que está se encaminhando com a aquisição de 24,23% das ações da BRF (BRFS3) por Marcos Molina, controlador da Marfrig (MRFG3).

Se a história que surpreendeu os mercados desde a semana passada resultar em fusão ou apenas controle do conselho administrativo – com direito a influência nos rumos da dona das marcas Sadia e Perdigão -, dará no mesmo.

Como não há nenhuma sinergia decisiva entre as atividades com carne bovina da Marfrig e de aves e suínos da BRF, o lance do empresário é visto pelo lado da “diluição dos riscos”, como define Lygia Pimentel, fundadora e CEO da Agrifatto.

Nessa Arca de Noé que está sendo gerida, ganha-se no balanço quando os mercados estiverem mais favoráveis para uma ou outra.

Trata-se de “complementaridade”, na definição de Lygia.

É o caso do cenário mais fortemente presente desde o início da pandemia e que se acentuou neste ano. A carne bovina enfrenta dificuldades no mercado interno e as outras proteínas avançaram, com significativas altas de preços, complementa a consultora.

Ocorre, porém, que a Marfrig tem menor exposição interna que seus pares, JBS (JBSS3) e Minerva (BEEF3).

No mercado externo, uma disruptura no funcionamento normal das cadeias também pode ser diluída com a diversificação dos negócios. E nesse corredor, Marfrig e BRF são fortes.

Aprendizados

Para não dizer que não há sinergia nenhuma na integração dos negócios, no limite pode haver alguma em termos de agregação de produtos em centros de distribuição da BRF. Mas isso é algo que poderá ajudar somente quando o Brasil justificar aumento do consumo de carne bovina, o que parece fora de cogitação por um bom tempo.

Como se considera que é a Marfrig que vai entrar nos suínos e frangos e não a BRF na carne bovina, pela ordem de quem está mandando, Marcos Molina poderá aproveitar alguns aprendizados.

O dele próprio, talvez pelo que fez de errado ou deixou de fazer quando controlava a Seara e foi obrigada a vendê-la, em 2013, para a JBS, para diminuir a alavancagem, boa parte em aquisições, que estava impagável.

E o aprendizado, também, que pode ser extraído da gestão da Seara pela família Batista, que assumiu quase R$ 6 bilhões de dívidas da processadora de suínos e aves com quase 30 unidades à época.

Até então, o maior grupo mundial de carne bovina só tinha a pequena Frangosul no seu portfólio e depois da compra ficou nos calcanhares da BRF no Brasil e no mundo.

“No mínimo, o exemplo da diluição de risco que a JBS tem, com sua maior exposição no mercado interno, pode ser útil”, diz Lygia Pimentel.

Acionistas

O Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade) vai analisar a aquisição de quase ¼ das ações circulantes da BRF, mas não deverá opor resistência, nem mesmo se o processo evoluir para fusão direta com novas compras de ações que Marcos Molina venha a fazer e como suspeita-se no mercado financeiro.

Como são negócios diferentes, não há por que. Além disso, a JBS diversificada é o exemplo.

Agora, a apenas o controle acionário com domínio do Conselho é uma questão que intriga.

Descarta-se que a Marfrig não queira influir na administração direta, como garantiu Marcos Molina, ao dizer que será investidor “passivo”.

Ninguém gasta mais de R$ 3 bilhões (até agora) e ainda vai enfrentar algum constrangimento com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se não for para decidir. Mais ainda sabendo que a BRF nunca entregou os resultados esperados com a fusão da Sadia e Perdigão.

Outra questão – e até vista como causa dos problemas da BRF -, é a reconhecida dificuldade de gestão. Nos moldes das “corporations” americanas, a companhia é das que possui o capital acionário mais pulverizado, onde pequenos participantes fazem muito barulho.

Além das famílias Furlan e Fontana, remanescentes dos fundadores da Sadia, com 2%, ainda têm os fundos.

O Previ ficou menor, depois de ajudar Marco Molina a comprar 3% das ações detidas pela fundação, e que terminou por montar seu controle na BRF. Mas perdeu seu presidente, José Maurício Coelho, que pediu demissão pelas críticas recebidas com a operação.

Portanto, não se pode afirmar que o fundo de seguridade dos funcionários do Banco do Brasil (BBAS3) venha a ser aliado da Marfrig.

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