Se corte de gastos não for suficiente, espere queda no mercado de ações e inflação e juros nas alturas, diz BTG
Enquanto a equipe econômica de Lula não anuncia o pacote de contenção de gastos, o mercado segue monotemático: 100% focado em preocupações fiscais. O ministro da Fazenda Fernando Haddad disse na segunda-feira (18) que as medidas estão praticamente fechadas e serão divulgadas em breve.
Os analistas do BTG Pactual afirmam que o governo tem uma oportunidade de recuperar a confiança dos investidores se implementar cortes de gastos significativos nos próximos dias.
No entanto, dado o elevado nível de dívida e o potencial de aceleração no ritmo de deterioração fiscal, eles dizem que o cenário parece binário: ou os formuladores de políticas entregam o mínimo necessário para estabilizar o sentimento, ou estão caminhando para outra decepção.
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“O mercado precisa ver a sustentabilidade do arcabouço fiscal atual e um crescimento mais lento dos gastos, com os investidores acreditando que um teto de gastos de 2,5% será respeitado e que a trajetória da dívida se estabilizará em breve, com superávits primários alcançados nos próximos anos (um desafio político considerável)”, dizem.
Os analistas Antonio Junqueira, Bruno Lima, Carlos Sequeira, Leonardo Correa e Osni Carfi afirmam que, enquanto o mercado de ações permanece barato e os lucros das empresas superaram as expectativas, os investidores precisam que os formuladores de políticas estabilizem o sentimento do mercado.
Caso isso não aconteça, outra queda do mercado de ações é provável, com inflação e juros subindo e a economia enfrentando uma desaceleração significativa, alerta a equipe do BTG.
Dívida também preocupa
Os analistas do BTG lembram que os ativos de risco brasileiros se deterioraram nos últimos meses, com a confiança dos investidores na sustentabilidade do arcabouço fiscal e da trajetória da dívida do país atingindo mínimas de vários anos.
“Os preços dos ativos estão caindo para níveis reminiscentes da era Dilma (com taxas reais das NTNB de 10 anos se aproximando de 7%), embora ainda haja alguma distância”, dizem Junqueira, Lima, Sequeira, Correa e Carfi.
Apesar das boas intenções do ministro da Fazenda e dos esforços para implementar cortes de gastos necessários, eles observam que parece haver falta de apoio político para medidas mais estruturais.
Além disso, a questão da dívida preocupa. O presidente Lula herdou uma dívida bruta de 72% do PIB e aprovou medidas que aumentaram os gastos no início de seu mandato e que podem elevar esse déficit a 84%, segundo economistas.
“Sustentar uma dívida bruta superior a 80% com taxas reais próximas a 7% é desafiador, com o déficit nominal possivelmente ultrapassando 8% do PIB, resultando em um prêmio de risco elevado”, dizem.